Um aluno cascudo

Wellington ficou devendo contra o Grêmio. Foto: André Rodrigues

Contado de hoje e até dia 4 de setembro, serão dez dias. No futebol, é uma eternidade. Lá, no dia 4, na Baixada, o Athletico, pela Copa Brasil, terá que derrotar o Grêmio por 2×0 para decidir nos pênaltis.

Pergunto: nesse período, o treinador Tiago Nunes terá aprendido a arrumar o time para jogar contra os ‘imortais’ gaúchos?

Nos dois jogos, em sequência, entre os dois times, a impressão que Tiago passou foi a de ser daqueles alunos de Renato Gaúcho, que têm dificuldade de gravar a lição que recebeu na sala de aula. Nessas duas partidas, a lição de Renato foi de uma didática perfeita. Bem resumida, para um time de qualidade individual, como é o do Grêmio, basta jogar com paciência que, em um dado momento, o adversário inferior que é o Athletico, irá errar. E, errando, estará com defesa desprotegida, pois em regra, esse time joga sem a consciência de seus limites.

Nos dois jogos, o Grêmio fez absolutamente a mesma coisa: marcou Bruno Guimarães, que é o único talento do Furacão, e jogou em cima do ex-atleta Marcio Azevedo e da inércia de Wellington. O que foi feito de Erick?
Confesso que não sei o que ocorre com Tiago Nunes. Às vezes, desconfio que, por ter adquirido prestígio nacional (e com toda a justiça), acha que tem o direito de tratar seus princípios de jogo como insuperáveis. É aquela soberba involuntária, próprio dos humildes.

Para o Athletico enfrentar o Grêmio no dia 4, primeiro é preciso que Tiago ganhe consciência de que esse seu time está em transição. De fraco, está em trânsito para ser medíocre. É notável, por ser coerente, um treinador ordenar um time com princípios modernos. Mas o que é coerente no futebol? A coerência não tem um conceito imutável. Mantida no erro, é ignorância. Como na vida, nós não podemos manter a coerência, se as circunstâncias nos mostram que estamos errados.
No caso do Furacão, não é coerente querer ser moderno com a falta de qualidade de Azevedo, Wellington, Cirino, Tomás Andrade, Cittadini, Braian Romero, Jonathan e Madson. Tiago, então, não pode tratar e pretender que o Furacão jogue como se fosse o Barcelona de Guardiola.

Se o Palmeiras que é o Palmeiras, com Felipão que é Felipão, para ganhar do Grêmio, jogou atrás e marcando, por que Nunes tem que fazer o Athletico jogar na base daquilo que acha moderno, escancarando as suas intensas fragilidades? Um aluno inteligente como é Tiago Nunes, em dez dias, pode acabar sabendo mais do que o professor.