Último capítulo

O imortal Gabriel Garcia Marques nunca iria imaginar que a sua maior obra, “Crônica de uma Morte Anunciada”, iria poder ser usada como uma metáfora no futebol brasileiro. Há histórias em que o final pode ser anunciado já no primeiro capítulo, como a morte do seu Santiago Nasar.

Nenhum atleticano tinha mais do que uma remota ilusão do futuro no Furacão nessa Copa do Brasil. A eliminação pelo Cruzeiro era apenas questão formal, da realização desse jogo no Mineirão. Então, o empate por 1×1 foi apenas a prova de que a desilusão se tratando do Atlético de hoje já pode ser sentida antes do fracasso. A exclusão da Copa do Brasil não foi consequência do jogo de ontem, mas a soma dos erros dessa tutela arbitraria a que o clube continua sendo submisso.

O Atlético deu a impressão que melhoraria com o treinador Tiago Nunes. Nada mais do que uma boa impressão. Aproveitando-se da apatia do Cruzeiro, até equilibrou o primeiro tempo. Mas a crônica deficiência de passagem do meio para o ataque, e sem um atacante, limitou-se a chute de Pablo. Pouca coisa para quem precisava o mínimo, que era uma vitória simples para decidir por pênaltis.

O Cruzeiro voltou sério. Dominando o segundo tempo, não resolveu o jogo em razão de três grandes defesas de Santos. Mas marcou com Arrascaeta. O gol de empate de Bergson no finalzinho, serviu para o técnico, os jogadores e os dirigentes afirmarem que quase deu. Mas não a torcida, que viu jogo já dominada pela desilusão.

Futuro

É sempre assim: a partir da eliminação do Brasil de um torneio, passa-se a discutir soluções para o seu futuro. Uma das propostas sugere a adoção do projeto francês, ou um “trabalho à longo prazo”.

A proposta não responde o fato essencial: o conceito de “trabalho à longo prazo” no Brasil é capaz de recepcionar os mesmos elementos usados pela Alemanha, em 2014, agora, pela França, e que está sendo promovido pela Inglaterra, em especial, o aspecto temporal?

A sugestão ignora o elemento fundamental: isso só está sendo possível nesses países porque há 10 anos o trabalho de formação de atletas é fiscalizado, e como na França, até orientado pelas federações. Ao contrário, no Brasil, a CBF assiste e incentiva a relação promíscua entre dirigentes e empresários.

Os clubes deixaram de ser a base de si próprio e da seleção, para serem a base de negócios. Não há outra forma de explicar, o fato de não ter surgido, de acordo com a visão de Tite, nenhum jogador no Brasil depois dos 7×1 do Mineirão.

Mas nada será possível, nem o “trabalho à longo prazo”, se os clubes não exigirem a intervenção do Estado para alterar a Lei Pelé em relação ao primeiro contrato do atleta e a cláusula de rescisão.