Tal Geninho, tal Tiago

Brasileiro, outubro de 2001. Em 14º lugar, o Atlético era apresentado no Brasileiro como um dos cotados para ser rebaixado. Seu treinador, Mário Sérgio Pontes de Paiva, que morreu como jornalista na tragédia da Chape, tinha a consciência que, com ele, o Atlético seria rebaixado. E pediu demissão. Mário Celso Petraglia, que o contratara, negou a demissão: “Vamos juntos até o fim. Nem que seja para a segunda divisão”.

Nenhum dos Mários suportou a derrota para Fluminense, 2×1. O Pontes de Paiva foi embora e o Petraglia foi cuidar da CPI que o investigava o Atlético.

Ademir Adur, assumindo o futebol, sugeriu e teve aprovado um nome: Geninho. Voto vencido, Petraglia resumiu: “É um retrocesso”.

Quando Geninho chegou, o CT do Caju era um verdadeiro inferno de intrigas. Antes de ser técnico, teve que acalmar as emoções. A partir da vitória na estreia sobre a Portuguesa, na Baixada (3×1), o Atlético saiu da boca da zona e foi acabar em 2º lugar. Com um futebol irresistível, o Furacão de Geninho alcançou o que, ainda, era improvável: o título de campeão do Brasil.

Passados 17 anos, Geninho, às vezes, é obrigado a ouvir a versão de que “pegou o time já armado por Mário Sérgio”. Aceita. A vida lhe ensinou que, no caso, o que importa não é a versão contada pelos homens, mas a versão contada pela alma dos atleticanos.

Junho de 2018: Mário Celso Petraglia apresentou-se como “o maior diretor do Brasil para comandar o futebol do Atlético”. Contratou Fernando Diniz para fazer uma revolução tática e transformar o Furacão em um “time alternativo” aos dos grandes centros.

Em seis meses, Fernando Diniz bombardeou a boa ideia de Petraglia. As suas ideias futuristas derrotaram o Furacão no campo, arrebentou com os músculos dos jogadores, jogando o time para uma situação quase irreversível de luta contra o rebaixamento. Quanto mais o Atlético perdia, mais Diniz era prestigiado por Petraglia, que afirmou: “Só vai embora se quiser. Fica até indo para a segunda divisão”.

Diniz e Petraglia não sobreviveram à derrota para o Botafogo, no Rio. Já desgastado no vestiário com os jogadores, Diniz foi demitido. Para justificar, Petraglia escreveu: “Só querem saber do resultado do último jogo. Diniz sai, eu também saio do futebol. É um retrocesso”.

Tiago Nunes assumiu e nunca mais o Atlético foi o mesmo. O seu jogo foi tão completo, que se aquele seu presente pudesse retroagir, teria decidido o Brasileiro. Aplicando alguns ensinamentos de Autuori, em especial a troca de passes em linha vertical, Tiago fez o Furacão terminar o ano jogando o melhor futebol do Brasil. Esse time, com a cara e a alma de Tiago, é um dos campeões da América do Sul.

Tiago já ouviu e terá que ouvir a versão de que “pegou o time armado por Diniz”. Deveria seguir o ensinamento do grande Geninho. O que importa não é a versão contada pelos homens, mas a versão contada pela alma dos atleticanos.