Sentimentos modernos

Título do Estadual está nas mãos de Rafael Guanaes. Foto: Albari Rosa

​Se o Furacão, pelo acaso ou pelo futebol do jogo jogado, não ganhar o bicampeonato estadual, para a minha geração, a frustração não passará de uma madrugada. É o que acontece quando os sentimentos são criados e educados muito mais pelas decepções do que pelas conquistas.

O amor pela causa era preservado porque parecíamos peregrinos retornando do Monte das Bem-Aventuranças, próximo ao Mar da Galileia, depois do mais belo discurso que a humanidade ouviu: o “Sermão da Montanha”. Nele, à certa altura, diante da aflição dos peregrinos, o orador afirmou: “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados”.

Então, para esses velhos sentimentos atleticanos, o que aconteceu depois de 1995, foram glórias que, por serem inesperadas, entraram em suas vidas como um consolo, uma verdadeira uma oferta divina. Era o amor em estado bruto.

​Mas, nessa Páscoa, o Furacão não joga para esses sentimentos já sob o regime previdenciário. Joga para uma geração de torcedores, cujos sentimentos são modernos, que se mantêm por fatores imediatos, que os sociólogos conceituam como “amor líquido”.

​Na Baixada, foram criados por tijolos, educados por cimento e cadeiras, pelo marketing da “Paixão eterna”. Mais do que isso: são mantidos pelo título de 2001, e pela perda forçada da Libertadores de 2005, e por vários títulos estaduais. E, tornados adultos, pela conquista da Sul Americana, em 2018.

Para essa nova geração, não existe o acaso, tampouco, o jogo jogado. Existe um fato: ganhar.
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O jogo jogado

​Em uma final de campeonato, a derrota não serve para nada, egoístas pensamos desde cedo. Mas, se há renovação de oportunidade, a derrota acaba servindo para alguma coisa.

Ouvi dizer de que há convencimento no Caju, de que a derrota em Toledo (1×0) foi obra do desprezo aos locais, da falta de lucidez de comando e da soberba em campo.

​Mas não basta só o convencimento. É preciso que ele seja usado para impulsionar as correções. Do contrário, ocorrerá a hipótese da falsa humildade, que é fatal no futebol.

É um daqueles jogos que ambienta na tensão criada pela derrota anterior. Há tanta pressa e ansiedade para se resolver o jogo de imediato, que se força reduzir noventa minutos em dez.

É, aí, que entra o comando.

Se for o de Guanaes, é aí que surge a questão.