Se o Furacão, pelo acaso ou pelo futebol do jogo jogado, não ganhar o bicampeonato estadual, para a minha geração, a frustração não passará de uma madrugada. É o que acontece quando os sentimentos são criados e educados muito mais pelas decepções do que pelas conquistas.
O amor pela causa era preservado porque parecíamos peregrinos retornando do Monte das Bem-Aventuranças, próximo ao Mar da Galileia, depois do mais belo discurso que a humanidade ouviu: o “Sermão da Montanha”. Nele, à certa altura, diante da aflição dos peregrinos, o orador afirmou: “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados”.
Então, para esses velhos sentimentos atleticanos, o que aconteceu depois de 1995, foram glórias que, por serem inesperadas, entraram em suas vidas como um consolo, uma verdadeira uma oferta divina. Era o amor em estado bruto.
Mas, nessa Páscoa, o Furacão não joga para esses sentimentos já sob o regime previdenciário. Joga para uma geração de torcedores, cujos sentimentos são modernos, que se mantêm por fatores imediatos, que os sociólogos conceituam como “amor líquido”.
Na Baixada, foram criados por tijolos, educados por cimento e cadeiras, pelo marketing da “Paixão eterna”. Mais do que isso: são mantidos pelo título de 2001, e pela perda forçada da Libertadores de 2005, e por vários títulos estaduais. E, tornados adultos, pela conquista da Sul Americana, em 2018.
Para essa nova geração, não existe o acaso, tampouco, o jogo jogado. Existe um fato: ganhar.
O jogo jogado
Em uma final de campeonato, a derrota não serve para nada, egoístas pensamos desde cedo. Mas, se há renovação de oportunidade, a derrota acaba servindo para alguma coisa.
Ouvi dizer de que há convencimento no Caju, de que a derrota em Toledo (1×0) foi obra do desprezo aos locais, da falta de lucidez de comando e da soberba em campo.
Mas não basta só o convencimento. É preciso que ele seja usado para impulsionar as correções. Do contrário, ocorrerá a hipótese da falsa humildade, que é fatal no futebol.
É um daqueles jogos que ambienta na tensão criada pela derrota anterior. Há tanta pressa e ansiedade para se resolver o jogo de imediato, que se força reduzir noventa minutos em dez.
É, aí, que entra o comando.
Se for o de Guanaes, é aí que surge a questão.