Era 30 de outubro de 1974. Eu tinha que estudar sobre o crime de Incêndio, que seria a dissertação da prova do meu professor René Ariel Dotti, de Direito Penal, da Federal. Da redação da Gazeta do Povo, no final da tarde, fui chamado pelo dr. Francisco da Cunha Pereira Filho, meu patrão, que me convocou: “Muhammad Ali volta a lutar, já falei com o Clóvis e iremos retardar a rodagem do jornal. E sobre essa luta eu quero que você escreva”. Eu argumentei que tinha que estudar para a prova do professor Dotti, mas ele insistiu: “Tudo se resolve. Você lembrará para sempre que escreveu sobre a importância desse momento”.
Era a “Luta na Floresta”, no Zaire, República Democrática do Congo: Ali x Foreman. Doutor Francisco tinha razão: nós, jovens, ainda não tínhamos a exata noção do que Muhammad Ali representava. Era o espelho pelo qual refletiam os traumas (guerra do Vietnã), os conflitos (direitos civis), os dramas criados pelas teorias que queriam explicar o assassinato de J.F. Kennedy e os desafios à jurisprudência estatal da Suprema Corte, que entendia que “todo o jovem teria que morrer pelo seu pátria”.
Quatro da manhã, começa a luta. Já com 32 anos (Foreman tinha 25), Ali levou o seu gênio para o ringue: como Foreman nunca precisou de mais de dois rounds para ganhar, decidiu – nos sete primeiros rounds, criar para ele um mundo de faz-de-conta. Dançando nas cordas, Ali foi esfolando fisicamente Foreman até o oitavo round: em dois segundos, com uma sequência de jabs, de direita e de esquerda, e no último segundo, com um gancho de direita no queixo, Ali finalizou Foreman com nocaute.
Da prova, só me lembro de algumas lições sopradas pela minha colega Rosemari Dietrichs Pimpão, hoje brilhante Desembargadora Federal do Trabalho.
Dos personagens dessa história, só eu não consegui ser rei.
Rodada
Para a minha geração, a morte de Muhammad Ali absorveu todos os fatos esportivos do final de semana. Melhor assim. Não seria possível escrever mais do que poucas linhas da vitória do Atlético sobre o Santa Cruz, 1×0. Outra apresentação fraca, salva pelo golaço improvável de Deivid.
E o que escrever sobre a desgraça dos coxas no Itaquerão? Como time mexicano, jogou como nunca e perdeu como sempre. Corinthians 2×1.