Opinião

Petraglia, um personagem real

Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Gazeta do Povo

Eu queria ter o mínimo do dramaturgo Nelson Rodrigues para criar alguns personagens ilusórios. Então, teria o meu “Sobrenatural de Almeida”.

Carente do mínimo de Nelson, sou obrigado a conviver com um personagem real que dele, às vezes, eu quero descansar, mas não consigo: Mário Celso Petraglia.

Sob o pretexto de que dia 26 de maio, fez 25 anos de que assumiu o Athletico, Petraglia mandou publicar no site oficial, a sua versão da história.

Por tomar uma dose de ódio pela manhã, as suas lembranças são renovadas sempre com a intenção negacionista do ideal dos outros. Ao invés de retornar esses fatos com o objetivo de contar a bela história da qual ele é o principal personagem, adota uma linha narrativa para querer reduzir a importância dos atleticanos que, segundo ele, “já estavam lá”. Se estavam, juntou-se a eles.

Se esse tivesse o mínimo de sensibilidade para adotar a narração pela verdade, ele aproveitaria a data para homenagear “aqueles que já estavam lá”, que concorreram direta e decisivamente para a construção desse Athletico. O que mais ofende é que a sua versão ao invés de se limitar às suas realizações, parte dessas para tornar marginais todos os atleticanos que participaram da construção do clube.

Aonde Petraglia quer chegar? Se quer provocar “aqueles que já estavam lá”, está perdendo tempo. Eles só estavam pelo amor ao Athletico. A história de cada um desses está escrita no coração, e a obrigação prestada na consciência de cada um deles.

Por ser maldosa pelo ódio e intrigante pelo rancor, a versão de Petraglia omite o motivo que o levou a assumir o clube: a associação do amor atleticano e o interesse de se servir dele como profissional. A partir do momento em que o interesse material concorre com o ideal, o exercício desse não se torna mais do que uma obrigação.

Só que esse motivo, mesmo com a sua parte nobre, coloca uma faca no peito do clube: a dívida com a Paraná Fomento e com o Município de Curitiba para a construção da Baixada. Por mais que exista o direito, não se pode negar os fatos que são inflexíveis. A ambição, o amor e o interesse de Petraglia fazem o Furacão ter todo o seu patrimônio indisponível por uma divida próxima de R$ 700 milhões com a Paraná Fomento e o Município (Desapropriação). Qualquer acordo com os agentes estatais não irá liberar a garantia da Baixada e do CT do Caju.

De repente, “aqueles que já estavam lá”, por seus filhos e netos, terão de voltar à Baixada para pagar a penhora e a hipoteca.

Eu queria ter a capacidade de criar um dos personagens fictícios de Elio Gaspari. Então, teria o meu “Eremildo, o idiota”. Coitado de mim de querer ter um pouco do notável escritor.

O meu personagem é real. Petraglia, às vezes, é o meu “Eremildo”.