Os esquecidos

Alfredo Gottardi Junior. Foto: Arquivo Grpcom

Não gosto de visitar o passado para, encontrando-o, convidá-lo a ser comparado com o presente.  Nessa época em que é necessário criar conteúdo para os jornais digitais, quase não se faz outra coisa, que não seja a escolha dos melhores de todos os tempos. 

Desde que uma guerrilha argentina digital invadiu o site da FIFA e escolheu Maradona e não Pelé como o melhor jogador de todos os tempos, esse tipo de escolha perdeu o crédito. 

Essas escolhas provocam injustiças.

Entre nós, as escolhas dirigidas esqueceram de 3 jogadores históricos, todos, literalmente, craques:  Alfredo Gottardi Junior (Athletico), Cláudio Marques (Coritiba) e Ademir Alcântara (Pinheiros).

Em 1970, o saudoso treinador Alfredo Ramos olhou para volante Alfredo Gottardi e lhe disse: “Você dando um passo para trás, será um dos maiores zagueiros do Brasil.” E, então, fez-se o maior quarto zagueiro da história do Furacão. Nem o que está por vir irá superá-lo.

Mal saído do berço, Claudio Marques já era o quarto zagueiro de um Coritiba estrelado. O seu jogo com a perna esquerda era a representação viva do futebol como arte.  Uma mão de Viaro.  Quando precisou, deu um passo para o lado e se tornou um incomparável lateral esquerdo. 

A lembrança mais recente que se tem de Ademir Alcântara era o do meia do Coritiba em 1995.  Nessa época Ademir dava as últimas lições que Alex precisava. O meia, incomparável por essas bandas, foi o do Pinheiros de 1984.  Alto, elegante, inteligente, parecendo um Ademir da Guia em nova versão, mostrava que o futebol era para jogar e não correr. Não foi de graça que foi titular do Benfica por muitos anos.

Ademir Alcântara já na época do Coritiba. Foto: Arquivo Grpcom

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Ato de fé

O futebol voltou a ser jogado em meio a peste. Mas, foi na Alemanha, e nada que seja na Alemanha serve como referência: a capacidade de disciplina às normas, a cultura de respeito à vida como valor maior e a crença na orientação de líderes políticos e médicos parecem ser coisas de outro mundo.

Cada jogo, como o jogo em si, foi irrelevante. A importância esteve na volta do futebol como um valor que parecia ter perdido o rumo. A volta foi tão emocionante que os jogos pareciam tocados por uma trilha emotiva.

A volta do futebol, foi um verdadeiro ato de fé que os alemães praticaram para mostrar ao mundo que, ainda, nossos valores serão salvos. Talvez esse retiro espiritual faça que o futebol para de simular uma realidade, quando a realidade é essa que está sendo escancarada pelo insolvente Corinthians.