O monstro

No futebol, o conceito de identidade própria de um clube começa e termina em um único valor: a sua história. E no sentido mais amplo, apanha pessoas, a sua torcida, os seus sentimentos, as suas vitórias e derrotas, os seus títulos e fracassos, a sua dor e a alegria, as suas lendas e seus mitos, as suas verdades e mentiras.

Será que o saudoso Atlético em 94 anos não conseguiu uma identidade própria? Quem afirma um fato desse é um insensível, um despreparado ou está em decadência mental.

A identidade do velho Atlético era tão forte que construiu o que as grandes marcas do futebol não conseguiram: o Pinheirão, derrubou e construiu três vezes a Baixada e o melhor CT do Brasil. Não se constrói da noite para o dia, com a simples mudança da grafia no nome, do símbolo, da marca e da estampa do uniforme.

Nas duas últimas décadas, o Atlético foi o clube que mais construiu no futebol brasileiro. Pergunto: o que o novo perfil aproveitou desse período? O “h” do Athletico e as cores vermelha e preta são de 1924. O “Furacão” foi criado no campo, em 1949.  No mínimo há uma contradição insanável nos argumentos a favor da procura por “uma identidade própria”.

Mas já as mudanças eram irreversíveis por interesse do mercado teria que ter virtudes especiais: o bom senso, a sensibilidade, o respeito pelo passado, a consciência de que estava lidando com sentimentos alheios e, o mais importante, o mínimo de conhecimento técnico.

Foi tudo o que o Furacão não teve. Aliás, Giovanni Vannucchi, sócio da empresa que fez a identidade do Athletico, afirmou na apresentação que o futebol lhe era estranho. A vida ensina que a primeira vez é uma experiência. Então o Atlético deu a “inexperientes” a mudança da sua vida. E, ao ver a coincidência com uma marca da Nike, exclamou o italiano: “P…m… o que é isso … cacete…”.

Criou-se um monstro, que terá que ser maquiado para a coincidência não se tornar uma cópia, uma fraude.