O Iluminismo da campeã

A França é uma campeã, mas sem a glória construída por lembranças que eternizam momentos e craques. Em uma Copa do Mundo, o título por si não tem o poder de descartar a história, e ficar sozinho. Para chegar a ele, é necessário contar a história. E, aí, é que é possível dar a exata dimensão do campeão.

Essa França, campeã na Rússia, não será imortal como as do Brasil de Garrincha (1958) e de Pelé (1970), do Uruguai de Obdulio Varela (1950), da Argentina de Maradona (1986), as da Alemanha de Beckenbauer (1974) e de Philipp Lahm (2014), da Itália de Paolo Rossi (1982), da França de Zidane (1998) e da Espanha de Iniesta (2010).

Essa França entra para o grupo de campeões de futebol mecânico, metódico e sem lustre, do qual o Brasil de Romário (1994), a Alemanha de Lothar Matthäus (1990) e a Itália de Canavarro (2006), são incomparáveis.

Mas não foi uma campeã por acaso.

Ganhou porque a sua proposta foi sincera, limitada a apenas ganhar o título. Sem nenhuma intenção de criar um clima de transformações e reformas, deve ter pensado em adotar o princípio do Iluminismo, de Rousseau, o da razão. No futebol, não há outra razão a não ser a conquista do título. Daí o seu treinador Didier Deschamps ter recorrido à escola que parecia já reformada: a de todos exercerem uma função de marcação e de defesa, e só daí isolar os atacantes para buscarem o gol. Não tem marcação alta, não tem marcação sob pressão, é tudo muito antigo. Nada mais é do que evitar o gol e marcá-lo no contra-ataque.

Fez tudo isso muito simples: à partir de um sistema de defesa sólido pela proteção de Kanté, e por um meio comandado pelo invulnerável Pogba, que parece o “Cavalo de Guerra” de Spielberg, jogava a bola em velocidade à procura de Mbappé e Griezmann, raros atacantes, que, com a bola, conseguem ser talentosos e inteligentes, em velocidade.

Com “Iluminismo” de Deschamps, essa França coloca o futebol em risco de retroceder dez anos no aspecto tático. É que voltamos ao tempo da bola parada e do contra ataque como princípios para ganhar um jogo de futebol.

Jogando com o acaso

Lá em janeiro que passou, quando os objetivos são projetados, o Atlético tinha escolhido a Copa do Brasil para apostar em uma conquista nacional em 2018. Nada mais certo. É um torneio que em razão de adotar o critério eliminatório em duas partidas, às vezes, permite trocar a lógica do melhor pelo acaso.

Hoje à noite, no Mineirão, o Atlético só tem uma maneira de continuar na Copa do Brasil: só o acaso pode lhe ofertar uma vitória sobre o Cruzeiro por um resultado que lhe classifique.

Não é tese, é fato. O Cruzeiro, que não precisava, com um dos melhores times do Brasil, jogou amistosos contra o Corinthians, com estádios lotados. O Furacão, recolheu-se ao CT do Caju, com um técnico improvisado, sem um único reforço.

E, assim, em um treino silencioso com o Paraná, o técnico Tiago Nunes obrigou-se a mudar um esquema e um time que viveram seis meses sob a tutela irresponsável.

De repente, o acaso esteja passando por Belo Horizonte.