Mengo, a pátria de chuteiras

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Conhecendo a literatura esportiva do genial Nelson Rodrigues, aprendi que o fato, por esgotar-se no instante da informação, é mero detalhe para a narração. Ensina o mestre: “A narrativa não se exaure. Conserva coesa a sua força e é capaz de desdobramento mesmo depois de passado muito tempo”.

Certa vez, após a conquista da Copa do Mundo, na Suécia (1958), para identificar a união de sentimentos pela seleção brasileira, Nelson criou uma das suas antológicas expressões: o Brasil é a pátria de chuteiras.

Embora já não atenda a motivação da época, pois não há mais sentimentos pela seleção brasileira, a expressão, mesmo como metáfora, pode ser usada para explicar a influência social que o Flamengo volta a ter no Brasil.

Há tempo o futebol brasileiro vive carente. Incentivando escolas de resultados, foi à indigência técnica. O Flamengo está buscando devolver ao nosso futebol a essência perdida.

Sob o comando do português Jorge Jesus, provoca o sentimento de que ainda há salvação para o futebol brasileiro.

O Flamengo, que será campeão do Campeonato Brasileiro, joga com o Grêmio no Maracanã, a vaga brasileira para a final da Copa Libertadores. O futebol que joga é tão precioso e tão encantador, que é capaz de fazer esconder sentimentos rivais.

Nelson Rodrigues, que parecia ter gravado na face o escudo do Fluminense, não iria ficar contrariado de que a expressão da expressão ser usada para o sentimento atual do brasileiro: o Flamengo, é a pátria de chuteiras.

O adversário é o Grêmio.

E o “Imortal” me faz lembrar de Clarice Lispector: “E quando você menos espera a vida vai lá e te surpreende”.

De primeira

O jogador Juan Alano afirma que Coritiba x Operário “é um clássico”. É isso que ocorre quando o jogador não conhece a história do clube e não se interessa em conhecê-la. Talvez, pela atual situação, Alano não deixa de ter razão.