Augusto Mafuz

Samir faz papel de torcedor de arquibancada do Coritiba

Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná

Convidado na qualidade de presidente do Coritiba, pelo podcast Dinheiro em Jogo, Samir Namur deve ter surpreendido o âncora Rodrigo Capelo: ao invés do presidente, apareceu um desses integrantes de arquibancada como se fosse falar em um botequim.

Ao enfrentar a questão sobre o descompasso patrimonial e técnico de Athletico e Coritiba, Samir em razão da sua extrema dificuldade de raciocinar com fatos, dos quais decorre a lógica, usou um instrumento de político populista: desprezando as administrações pródigas e irresponsáveis que corroeram o Coritiba, atribuiu a supremacia do Athletico “ao ganho de um estádio de graça”, e a “injeção de valores altíssimos de dinheiro público e que não foram pagos”.

O Athletico não ganhou nada de graça. Do seu ativo financeiro próprio, antes de tomar o dinheiro emprestado, investiu próximo de R$ 100 milhões. O “dinheiro público” ao qual se refere, está limitado aos direitos futuros, portanto, incertos, sobre quotas de potencial construtivo, às quais ele nunca conseguiu ter acesso para negociá-las, embora seja o seu único titular.

O dinheiro recebido da Paraná Fomento foi a título de empréstimo com garantia hipotecária de todo o seu patrimônio, transformada em penhora, nas ações de execução propostas pelo banco estatal.

Samir falou como um moleque de arquibancada.

Se falasse com a consciência de presidente e dotado da coragem de enfrentar os fatos da história, prestaria uma ajuda inestimável ao seu clube.

Lembraria de que o Athletico, já em 2001, quando nem se cogitava de Copa do Mundo, tinha pago todas as suas dívidas, construído o CT do Caju, a Arena da Baixada, voltado a ganhar títulos estaduais, participado da Libertadores, se tornado campeão do Brasil, tudo pago com revelação e venda de jogadores, e sacrifícios pessoais de alguns atleticanos, cujo ideal foi conciliado com uma administração profissional.

Se falasse como presidente, Samir lembraria que, enquanto isso ocorria com o Athletico em 2001, o Coritiba, já estava sendo engolido pela sua inércia. Paralisado por algumas administrações consumistas irresponsáveis e interesseiras, só conseguiu chegar até aqui em razão da sua força popular, adquirida em um passado já remoto. É possível copiar o rei Salomão e afirmar: “há tempo não há nada de novo debaixo do sol do Couto Pereira”.

Enquanto o Furacão sempre valorizou suas revelações para negócios, o Coritiba entregou-se à empresários. Aconteceu com o artilheiro Matheus Cunha e, agora, o próprio Namur entregou o lateral Yan Couto por 5 milhões de euros, e o empresário o revendeu por 8 milhões de euros ao Manchester City.

O Athletico não tem nenhum “esqueleto” dentro do armário. Se existe, ele está sentado ao lado de cada atleticano. Como sempre pagou todas as dívidas, um dia terá e irá pagar essa. Bem mais aterrorizante seja o que o Coritiba tenha dentro do seu armário e, talvez, não saiba: a inércia em realizações, que continua criando um passivo que já passa dos R$ 300 milhões. É uma espécie de “O Retrato de Dorian Gray”, em verde e branco.