Opinião

As faixas da Roskamp

Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Tribuna do Paraná.

A Casa Roskamp era na Rua XV de Novembro e já não existe mais, ficando o seu valor imaterial para a história de Curitiba. Era lá o lugar em que Atlético, Coritiba e Ferroviário mandavam confeccionar as faixas para simbolizar a conquista de um título paranaense. Quando era inevitável a vitória de um título, Carneiro Neto, como repórter ou narrador, dizia: “Pode encomendar as faixas na Roskamp”. A locação do imortal, virou um bordão de arquibancada.

O saudoso Evangelino da Costa Neves era mesmo danado. Presidente do Coritiba, criava várias situações para ganhar um título, inclusive de natureza psicológica. Na semana da decisão, mandava espalhar que “já tinha passado na Roskamp”. Eu me perguntava: “Qual a razão de Neves ter essa certeza?”.

E eu, um ingênuo apaixonado, acreditava. Nos memoráveis Atletibas da final de 1972, Neves mandou espalhar que “já tinha passado na Roskamp”. Indignado, perguntei: como desprezar um Furacão de Picasso, Claudio Deodato, Di, Alfredo e Júlio, Sergio Lopes, Valtinho e Sicupira, Buião, Tião Kelé e Nilson Borges? Fui a Roskamp e fui surpreendido. Quem havia encomendado as faixas de campeão, era o saudoso Atílio Comodo, o Tilico, diretor de futebol do Atlético. Os atleticanos nunca a usaram.

Coritiba e Atlético irão decidir o título paranaense de 2020, no Couto Pereira. Ganhando na Baixada por 1 a 0, o Furacão ganhou a vantagem. Como já conceituei após o jogo, esse é o tipo do 1 a 0 imenso. É que os dois times sem qualidade, são incapazes de imprimir um jogo continuo, uma sequência natural. Busca-se a compensação através da força física, da marcação e dos esquemas que mais protegem do que atacam. A partir dessa certeza, qualquer teoria tem que partir do equilíbrio que, na prática em regra, é sempre mantido.

E, qualquer teoria que se adote, não se pode ignorar um fato: não é um jogo de 180 minutos. São dois jogos de 90 minutos. A vitória no primeiro, por mais simples que seja, exerce influência técnica, tática e emocional no segundo.

Em um ambiente de iguais, o Athletico começa a final na frente. São as contradições do futebol. Jogando essa final para os tempos da Roskamp, ninguém poderia correr o risco de mandar fazer as faixas.