E se a bolha furar?

Uma das lições deixadas por Nelson Rodrigues sobre o repórter é essa: “Houve um tempo, no passado do homem, em que o fato tinha sempre um Camões, um Homero, um Dante à mão. Por outras palavras: o poeta era o repórter, que dava ao fato o seu canto específico. Hoje temos tudo: jornal, rádio e televisão. O que nos falta é justamente a capacidade de admirar, de cobrir o acontecimento com o nosso espanto”.

Atualizada, essa lição acrescentaria a Internet, embora seja impossível imaginar como o grande Nelson conviveria com o jornal digital e as redes sociais.

Destaco-a em razão da indiferença como a maior parte da crônica esportiva e dos atleticanos estão tratando a afirmação de Mário Celso Petraglia sobre o futuro do Athletico. Parecem acreditá-lo quando fala de bilhões de reais.

Lembrando: ele afirmou à ESPN que o modelo jurídico de associação dos clubes brasileiros está superado, com o que concordo. E que, por isso, quer transformar o Athletico em uma sociedade anônima, com o que também concordo.

Até aí, Petraglia falou o que pensa, e não o que obrigatoriamente irá acontecer. O que pensa depende de uma nova lei. Daí ter perguntado na coluna de ontem: e se a nova lei não for aprovada?

O que me assusta é que ninguém se espantou, esquecendo que o Athletico, por ser preparado para transformar-se em sociedade anônima, foi inchado no aspecto administrativo e estrutural. Comparado ao Estado brasileiro, Petraglia fez do clube o que o imortal Roberto Campos definiu como um cartório regulatório com estatais descomunais, cheio de servidores, ganhando valores extraordinários, em descompasso ao que arrecada.

Há uma lógica nesse meu espanto, que é preocupação.

Considerando que o modelo associativo está superado, não aprovada a lei, como sobreviverá o Furacão?

E Petraglia afirma tudo com a maior naturalidade, como se o clube não tivesse um passivo de 600 milhões de reais já executado e reconhecido por sentença, e como se o patrimônio não estivesse indisponível.

A verdade é que os atleticanos estão vivendo dentro de uma bolha inflada por Petraglia. O mais grave: ele acredita nesses delírios, como é um aporte de 1,5 bilhão de reais no Furacão.