A ida de Neymar para o Barcelona não pode ser encerrada como um fato de rotina, embora seja a regra no mercado de futebol. Há um fato que se ignora, e que é o mais importante: Neymar não foi embora por dinheiro. De remuneração mensal, irá ganhar no Barcelona um pouco mais que ganhava no Santos. E, se fosse essa a causa que motivou a vontade do craque, o mercado publicitário poderia intervir, deixando-o no futebol brasileiro. O motivo que provocou a vontade de Neymar o dinheiro não compra. É uma diversidade de sentimentos, que acaba resumido no fascínio que o futebol europeu provoca nos jogadores. Faça-se o leitor, um jogador. Concentrado para jogar, vendo um jogo pela televisão, tem imagens irresistíveis: o estádio sempre lotado, a torcida cantando, a bola rolando no gramado perfeito, faltas só as que o jogo torna inevitáveis, arbitragem intransigente com a disciplina. Se o leitor, que apenas tem o direito de sonhar, consegue sonhar, imagine, então, o jogador. Em especial, se ele é um Neymar. Por mais satisfação material que tenha no Brasil, o seu sonho de participar desse mundo torna-se razão da própria vida.
É essa vontade não provocada só pelo romantismo, que é a realização de um sonho e de um ideal, que se concilia com o dinheiro. Mas, também, por outro motivo, que nos choca, causa trauma: não há mais ideal do grande jogador permanecer no futebol brasileiro. O calendário, que maltrata o corpo; a transigência da arbitragem com a violência, que maltrata até a alma; os estádios, em regra vazios, que traz o tédio; as agressões de torcidas organizadas diante da derrota, os campos sem grama, e o aproveitamento de dirigentes do sistema, tornam o dinheiro brasileiro que jorra nos grandes clubes indiferente diante do fascínio europeu.
Bem resumido: o futebol brasileiro virou um chapéu velho.