Cápsula do tempo

Na Bombonera, Boca 2×0 Athletico.

No futebol, às vezes, o sentimento de que era possível ganhar o que se perdeu, é tão forte quanto a derrota. Não se pode acomodar a análise da eliminação do Athletico, da Libertadores, em razão exuberante história do Boca. Ainda mais, desse Boca, tecnicamente, sofrível.

Então, não é hora de escrever bonito, criar metáforas com ilusões, sonhos e o impossível para acalmar sentimentos. Não é hora de chorar, porque sairiam lágrimas do crocodilo de Nelson Rodrigues.

O Athletico foi eliminado, sem nenhuma resistência, porque criou fatores internos que o diminuíram, ainda mais, perante o Boca.

A dupla de zaga Thiago Heleno e Léo Pereira era preciosa, não tinha igual. Sem Veiga e Pablo, Tiago Nunes encontrou em Camacho a solução para manter a estrutura do lado esquerdo, setor que concentrava a força do meio e do ataque. Quando o Furacão voltou a ser forte, Heleno e Camacho foram suspensos por doping, por culpa direta de Marcio Lara e Paulo André, que não interviram nos movimentos estranhos do nutricionista.

E, com o tempo, surgiu uma agravante com a participação direta de Petraglia. A suspensão de 60 dias terminou, a Conmebol não marcou julgamento, e Thiago Heleno e Camacho continuaram impedidos de jogar. Como na Baixada existe sempre componente estranho, é possível que o Furacão tenha negociado a sua culpa, em troca de não remover o impedimento dos jogadores, até o final do torneio. Petraglia foi um dirigente covarde diante da passividade da Conmebol. Não há outra explicação.

E aí surge o segundo fato. Era certo que Renan Lodi, por quem gravitava todo o esquema tático, iria pegar caminho de Madri. Por não ter nenhum dirigente capaz de avaliar as consequências da sua saída, jogou-se no risco com Marcio Azevedo. O lúcido Tiago Nunes ficou tão confuso, que não sabendo o que fazer, tornou Marcelo Cirino como uma esperança. O técnico foi um desastre nessa disputa com o Boca.

E, assim, pela incapacidade do comando em responder questões primárias que o futebol provoca, o título sonhado da Libertadores foi para a cápsula do tempo. Lá, já estão uma camisa do Athletico e muitas promessas de Petraglia.