No Camp Nou, Messi pode estar com a bola sob o seu domínio. Pode até estar próximo de fazer mais uma jogada de gênio e eternizar mais um gol para o Barcelona.
Mas isso não será o fato mais relevante se ocorrer aos 17 minutos e 14 segundos do jogo. A torcida catalã, para lembrar o ‘Cerco de Barcelona’ pelos militares, que em 1714 aboliu as suas instituições, levanta-se e faz manifestações de natureza política. É quando o fato se transforma em tradição, que jamais será removida.
Na Baixada, um fato vem se repetindo, que vem forçando a criação de uma tradição às avessas. Não é em um minuto específico, nem em um dado momento. Quando menos se espera, a torcida reveza a sua paixão gritando pelo Furacão, com a mágoa criada pela perseguição de um comando rancoroso. Antes, era até razoável atribuir uma disputa entre Petraglia e as organizadas. Mas, agora, é a maioria que desabafa dirigindo o olhar e os gritos contra o camarote presidencial.
Na Baixada, neste domingo, pelo Brasileiro, o Atlético joga contra o Paraná.
Era para ser um clássico, mas não passará de mais um jogo.
E não é por ser contra Paraná. Poderia ser um Atletiba. Poderia ser contra o Flamengo, ou contra o São Paulo, velhos fregueses. Poderia ser contra qualquer outro, maior ou menor.
Um jogo na Baixada há tempo, por esse clima de hostilidade, é um jogo sem alma. A partir da manipulação do sistema biométrico, que subtrai o exercício do direito do sócio à segunda cadeira, a arquibancada da Baixada esvaziou-se. Restaram, ainda, assim com apelo, 10 mil torcedores. Só que eles vão, sem saber se levam junto a paixão, ou a revolta contra as posições arbitrárias do comando.
Não obstante esse clima, pode ocorrer um bom jogo.
Quando não resta mais nenhuma esperança, para a rivalidade, resta o orgulho. Se o Paraná, ainda, conserva esse sentimento, pode equilibrar um jogo no qual há o favoritismo do Furacão. As ausências de Jonathan, Paulo André e Lucho González podem diminuir o privilégio rubro-negro, e concorrer com o orgulho tricolor.