Baixada, 45 anos depois

Defesa do Athletico falhou no primeiro gol do Flamengo ao ficar trocando passes dentro da área. Foto: Jonathan Campos

Na Baixada, pelo Brasileiro, Athletico 0x2 Flamengo

Quando perder não é rotina, ignora-se a lógica, desprezam-se os defeitos naturais que as vitórias escondem, e, então, o que era virtude se transforma em soberba.

Se o Athletico perdesse na Baixada porque tinha o direito de se submeter ao poder técnico e individual do Flamengo, seria uma derrota ambientada na lógica, portanto, absolutamente normal. Afinal, era o Flamengo, que já não consegue mais disfarçar que entre as listas da sua camisa há traços fortes da faixa de campeão do Brasil.

Mas ocorre que o Furacão não perdeu para as imensas virtudes do time do português Jorge Jesus. Enfrentou-o com a sua natural personalidade, e impôs tanto equilíbrio que o melhor em campo foi o excepcional goleiro Diego Alves. Perdeu, simplesmente, porque alguns jogadores confundiram ousadia com soberba. E, por isso, acabaram fazendo o que não deviam fazer.

A prova maior deste fato foi o lance do primeiro gol de Bruno Henrique. Com a bola dominada, Wellington, que já não é mais criança, atrasou na “fogueira” para o goleiro Léo. Esse, que é meio atrapalhado, quis devolvê-la a Wellington dentro da área forrada de flamenguistas. Bruno se antecipou e marcou o primeiro. Fácil assim.

Fui direto ao primeiro gol carioca para imprimir o fato decisivo do jogo. Mas, antes, houve um lance de Léo Pereira, zagueiro em queda, no qual o árbitro marcou pênalti. Entendo que ocorreu o pênalti, desmarcado pelo VAR. Até que enfim, dirão os atleticanos.

E, aí, no início do segundo tempo, ocorreu o outro fato decisivo, mas natural: a qualidade do jogador. Na mesma situação em que Bruno Henrique marcou o primeiro gol, o Furacão ganhou uma bola de Arão, que Thonny Anderson perdeu porque não olhou a saída de Diego Alves, que defendeu. Se olhasse, veria todo o gol aberto para empatar. Foi a mesma razão que explicou o “gol antológico” que perdeu contra o Corinthians.

Tiago Nunes virou o time do avesso para lhe dar alma ofensiva. O risco de tomar o segundo gol não tinha cálculo e nem deveria ter. E era impossível não tomá-lo, porque o Flamengo tinha o contra-ataque armado por Everton Ribeiro para a conclusão de Bruno Henrique. E o inevitável aconteceu no minuto final. Bruno Henrique, gol de craque: de costas e de calcanhar.

Depois de 45 anos, o Flamengo conseguiu ganhar do Furacão, na Baixada, pelo Brasileirão.

O cronista, às vezes, tem direito de parecer ser soberbo.

Pois lhes digo: o Furacão também perde. Essa coluna é uma homenagem à memória de meu pai João, que de tanto ser Flamengo, morreu querendo me convencer que Zizinho, seu ídolo, foi melhor que Pelé.

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