Sacrifício, sem loucura

Foto: Hamilton Bruschz.

Se Fernando Diniz fracassar em seu contrato de experiência, o que é possível, o São Paulo já definiu o treinador que pretende para dar um jeito em sua vida: Tiago Nunes, do Athletico. Se o português Jorge Jesus continuar com medo da violência do Rio de Janeiro e, no próximo dezembro, voltar para Lisboa, o Flamengo já cravou nos seus planos o nome de um novo treinador: Tiago Nunes, do Athletico.

Os chineses e os árabes já sabem que o mercado de treinadores do Brasil está renovado. E que a sua grande estrela atende pelo nome de Tiago Nunes, do Athletico. Teimosa, a vida quer sempre nos impor que ninguém é insubstituível. Seu fundamento é o de que uma perda pode projetar reflexos por um bom tempo, mas, que em dado momento, somos obrigados a aceitar o rumo que ela, a vida, nos impõe.

Certa vez, como repórter da Rádio Guairacá, perguntei ao saudoso Rubens Passerino Moura, depois da conquista do título paranaense de 1970, (na época, o título estadual era a eternidade), se ele era insubstituível. Respondeu-me: “No Athletico, o insubstituível nasceu morto.”

Algumas perdas no futebol têm reflexos negativos, mas, por necessidade, são absorvidas, porque não há nada maior do que o clube, seja ele pequeno, ou seja, grandioso como o Furacão. Não obstante, no caso de Tiago Nunes, qualquer análise tem que ser feita com reserva. Há uma carência tão grande em todas as áreas do futebol brasileiro, que a perda de um treinador como ele, não se enfrenta com a naturalidade como é tratada a mudança do comando técnico de um time.

A estrutura técnica do Athletico é toda ela sustentada por Tiago Nunes. Foi o único treinador que entendeu o projeto criado e mandado executar por Paulo Autuori que, aliás, o trouxe para o CT do Caju. E só conseguiu por ser humilde, sem a vaidade do treinador que se coloca acima de todos.

O Furacão não ganhou a Sul-Americana e a Copa do Brasil porque tinha grandes jogadores. Ao contrário, era tão carente, que adotou Marcelo Cirino como sua opção de ataque. Ganhou porque teve um grande time, teve o que João Saldanha dizia, o verdadeiro onze. Dessa verdade (ou alguém contesta?) decorre uma lógica: a saída de Tiago Nunes vai quebrar a base da estrutura, que com certeza, irá demorar para ser reconstruída. Não quero dizer que o Athletico deva fazer loucuras para manter Tiago Nunes. E nem deve, pois o segredo maior da sua estabilidade financeira, é ser racional com o dinheiro. Mas, sacrifícios não são loucuras. Mantendo Tiago no seu comando técnico do futebol, o Athletico irá evitar o risco de ter que especular um mercado perigoso, que é o de treinador.