A vitória é a única verdade no futebol, é o princípio absoluto das arquibancadas. Isso significa dizer que não há compreensão para as derrotas. Não deveria ser assim.

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Antes dessa imposição intransigente que tem origem só paixão, há um princípio que informa ser a lógica um elemento do futebol. Por ela, é razoável compreender algumas derrotas.

Vejam só esse jogo do Athletico, em Brasilia, contra o Flamengo, pelo título da Supercopa do Brasil. Se o Furacão ganhar, irá receber a identidade de supercampeão brasileiro. Para quem até um dia desses era um simples figurante da periferia nacional, um título como esse não será pouca coisa.

Mais do que a forte identidade, bem mais do que simbolismo histórico e uma taça cheia de dinheiro, o título de supercampeão do Brasil, terá outro significado: definitivamente, as conquistas do Furacão deixaram de ser produto do acaso. É que ele cresceu tanto, que qualquer conquista, mesmo que tenha um fundo surpreendente, está na esfera da compreensão.

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Agora, vem a questão mais importante: qual será o significado de uma derrota e a perda desse título para o Flamengo?

A perda de um título nessa situação, depende do tamanho da derrota. E, não há nenhum exemplo mais recente e, portanto, mais forte, do que a derrota (1×0) do Flamengo para o Liverpool, pelo Mundial. A perda do título foi absorvida imediatamente pela crítica e pela torcida, porque o Mengo perdeu o jogo e o título por uma circunstância: no futebol, mesmo que as circunstâncias do momento criem equilíbrio, a solução razoável vem da lógica, que oferece a vitória ao time tecnicamente superior. E o leitor vai concordar, essa circunstância estará presente no grande jogo de Brasilia. O Flamengo que já era melhor, ficou ainda mais superior, depois do desmanche do Furacão.

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Como ando em uma fase de buscar exemplos do passado, agarro-me a maior lição que os mais fracos adotam como esperança no futebol. Antes da final da Copa do Mundo de 1954, na Suíça, os repórteres insistiram em perguntar ao técnico Sepp Herberger, de uma Alemanha despedaçada pela Segunda Guerra, se tinha a mínima esperança de vencer a poderosa Hungria, de Puskas.

Herberger respondeu: “A bola é redonda e o jogo tem 90 minutos”. Depois de estarem perdendo por 2 a 0, os alemães ganharam por 3 a 2. O evento entrou para a história como o “O Milagre de Berna”, cuja importância, no pós-guerra, para os alemães, só é superada pela queda do Muro de Berlim.