Opinião

Impunes

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil.

Na Grécia das tragédias, Zeus criou uma mulher e deu-lhe o nome de Pandora para fazer todos os homens sofrerem. Dizem que todos temos a nossa “caixa de Pandora”, onde guardamos todos os nossos males.

A tragédia do Ninho do Urubu, na qual dez meninos do Flamengo foram cremados, fez um ano. Logo virá o segundo aniversário, depois outros aniversários. E, uma tragédia como essa, cria um simbolismo tão forte, que o sentimento da perda fortalece, ainda, mais, a lembrança. E, o tempo que tem o poder de amenizar sentimento, perde essa capacidade quando se trata da perda de uma criança nas condições que se perderam os dez meninos.

Escrevo sobre esse fato com a experiência de quem viveu intensamente um episódio, que embora de características diferentes, guarda pontos semelhantes: a morte do zagueiro Vagner, do Paraná.

Só para lembrar, em abril de 1990, o “General”, jogando pelo Paraná contra o Sport, de Campo Mourão, depois de um choque de cabeça com Charuto, caiu desmaiado. A morte de Vagner não foi só consequência de erro de diagnóstico, que conduziu o tratamento para lesão de coluna cervical, quando era traumatismo craniano.

Concorreram com forte influência, também, as vaidades políticas no clube, que impediram que o saudoso Arnaldo Reis, já um excepcional neurocirurgião, vendo a gravidade do fato da arquibancada, entrasse no vestiário para atender Vagner. De vez em quando, quando volto ao processo, e lendo a perícia do saudoso Dr. Levy Carneiro e a sentença do magistrado Ressel, tenho ainda mais certeza que se o dr. Reis não fosse impedido de entrar no vestiário da Vila, Vagner não teria morrido.

Nem a indenização que receberam do Paraná depois de 20 anos, e nem o tempo, dão sossego aos sentimentos de Renata (viúva), Tayane(filha) e Vagner (filho).

Nesses casos, o simbolismo do fato não decorre da morte em si, isolada como consequência natural da vida. Torna simbólica porque é precedida de erros evitáveis e seguida de tratamento desumano pelos responsáveis. A falta de consciência de responsabilidade dos cartolas sobre o fato, provoca a sua e insensibilidade de não serem solidários. Retardam apoio humano, retardam soluções materiais que amenizam dores. Tornam-se verdadeiros criminosos.

O Flamengo e o Paraná, e seus dirigentes, cada um na sua época, nunca irão matar esse mal das suas caixas de Pandora. Resta saber se pessoas assim têm consciência para, ao menos, ter dor.

Inusitado

A extensão do contrato de Rony com o Athletico não ganhou, ainda, forma. O motivo é no mínimo inusitado: o procurador do jogador, que é o seu pai de criação, e que é um pastor evangélico, está exigindo, o que nós mortais, chamamos de comissão. Mas o pastor está pedindo para o Furacão um dizimo de R$ 500 mil. Por isso, que toda a vez que faz um gol, depois da cambalhota, Rony aponta para o céu. Isso, nós mortais, chamamos de mercenarismo.