Quando a Covid-19 chegou, o clássico tema sobre a importância do futebol voltou a ser discutido. Para tratá-lo como irrelevante perante a vida, abusou-se do uso do célebre pensamento do treinador Arrigo Sacci: o futebol é a coisa menos importante das coisas mais importantes.
Consciente da influência social e emocional que exerce na vida das pessoas, o futebol resignado, escondeu-se. Sem clamar por ajuda estatal, buscou a sua defesa no simples exercício do direito em razão do evento de natureza extraordinária: em regra, reduziu salários, dispensou funcionários, e conciliou o isolamento social com o trabalho online.
As coisas não estão sendo como o futebol preferiu absorver a sua irrelevância como serviço social. O Paraná e, em especial, Curitiba, por governo ou municípios, estenderam a flexibilição do comércio, a qualquer título. As restrições perderam o caráter de imposição e adotaram a natureza de conselhos.
O único segmento que está levando a sério esse estado de restrição social é o Judiciário que, através de sistemas eletrônicos, mantém todas as suas atividades, sem prejuízo de seus operadores. O Tribunal paranaense com a autoridade do presidente Desembargador Xisto está tão perfeito, que é capaz de transformar o método presencial em uma ilusão jurídica liberal.
As ameaças estatais de recuo da flexibilização são falsas e populistas. Escancarada a porteira como foi, nenhuma autoridade terá coragem política de recuar, muito menos de radicalizar. Os politicos fizeram o povo perder o medo da peste, transformando-a em algumas cidades, em mito, como se não existisse.
Se antes eu radicalizava a posição de que o futebol poderia esperar, agora, diante desse quadro o futebol tem que voltar. O seu retorno, mesmo sem torcidas, tem que adotar como única referência a importância econômica na vida brasileira. Em empregos diretos e indiretos, representa 0,72 % do PIB nacional.
Entre nós, o Clube Athletico Paranaense como exemplo. Excluindo as estatais, qual a empresa paranaense que conseguiu, faturar em seis meses nesse ano de desgraça, um valor próximo de R$ 150 milhões líquidos e manteve os seus 890 funcionários. O Coritiba, em menor proporção, em razão das deficiências financeiras históricas, manteve-se leal a sua história, sem correr nenhum trauma diferente dos que já têm. Os dois juntos, direta e indiretamente beneficiam dezenas e dezenas de milhares de famílias.
Um shopping, um comércio de rua, um comércio de bar e de restaurantes não têm mais importância econômica do que o futebol.
Não serão os jogos sem torcida que irão concorrer para a aumentar a propagação do vírus. Ao contrário, o futebol está dando um exemplo pelos mecanismos de proteção aos profissionais, que implementados durante os jogos, dá certeza de um ambiente invulnerável.
Como qualquer segmento, o futebol tem o direito de aprender a conviver com o vírus.
Já estou com saudades do Nikão.
