2018: o ano que já terminou

Creio que os atleticanos, como se fossem personagens escondidos da obra imortal de Zuenir Ventura (1968: o Ano que não terminou) desejavam parar o tempo para que 2018 não terminasse.

Com razão, porque a primeira conquista de um título inédito é a imagem que crava na memória como a mais bela e definitiva. Um dia, o Furacão será bicampeão do Brasil, mas o título não terá o simbolismo daquele de 2001. O sentimento por um bicampeonato da Sul-Americana, não será tão forte como esse que ganhou o domínio da sua alma naquela noite de 12 de dezembro.

Mas tudo no futebol terminar, 2018 deve terminar, também, para os atleticanos.

As consequências da conquista de um título são temporárias. Algumas, esgotam-se em pouco tempo. É que não se pode ignorar ou desprezar o fato de que, um título de repercussão, cria obrigações que, às vezes, o clube não tem, ainda, a capacidade de cumpri-las de forma contínua.

Eis a grande questão: o Athletico já está constituído como clube para manter-se nesse estágio que a conquista da Sul-Americana o colocou?

Como instituição está bem formado. O que não tem é cultura esportiva com o senso tradicional de um clube de futebol. O resultado de campo não influi no seu dia seguinte. Quando terminou o Brasileiro em sétimo lugar, e antes de ganhar a Sul Americana, os objetivos de 2018 já estavam atendidos: Lodi, Bruno Guimarães, Pablo e Léo Pereira já estavam cotados em milhões de euros.

Então, com essa cultura que mobiliza preferencialmente os elementos materiais para manter a estrutura estável, faz com que as conquistas sejam eventuais.

E não será esse ano que o Furacão buscará um equilíbrio entre os objetivos mercantil e o esportivo. Prova é que nos últimos meses arrecadou em valores brutos mais de 60 milhões de reais e, no entanto, o seu único investimento nobre para 2019, está limitado, em janeiro, a manter Tiago Nunes no comando do seu time.

O Athletico passou a ter razão em adotar essa vida racional.

Além do mais, o seu objetivo preferencial nesse 2019, imagino, está fora das quatro linhas. É a busca definitiva da solução para a dívida da construção da Baixada que, ao contrário do que seus juristas afirmam, não está em uma simples produção de prova judicial.