Verão e o fantasma do câncer de pele

Falta pouco mais de um mês para o início do verão e o “fantasma” do câncer de pele já começa a assombrar os consultórios de dermatologia. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que 82.155 novos casos da doença devem ser diagnosticados até o final do ano. A principal causa do problema é a ação cumulativa da radiação solar sobre a pele.

Uma pesquisa realizada recentemente pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) indica que 69% dos brasileiros não utilizam qualquer tipo de proteção solar e, por isso, acabam expostos à queimaduras, desidratação, mal-estar e principalmente ao câncer de pele. “Como a incidência dos raios ultravioleta está cada vez mais agressiva na Terra, as pessoas de todos os fototipos (tipos de pele) devem estar atentas e se proteger quando expostas ao sol. Os grupos de maior risco são os do fototipo I e II, ou seja: pele clara, sardas, cabelos claros ou ruivos e olhos claros”, informa a SBD. “Devem estar atentos também os que possuem antecedentes familiares com histórico da doença, queimaduras solares, incapacidade para bronzear e pintas no corpo”.

Segundo a dermatologista e vice-presidente da regional paranaense da SBD, Lilian Nishino, o câncer de pele costuma ser mais comum nos braços e na face, que são as áreas do corpo geralmente mais expostas aos raios solares. Entretanto, outras partes também podem ser atingidas. “Uma vez por ano, é indicado que as pessoas examinem a própria pele e vejam se existe algo de diferente”, afirma Lilian. São sinais que podem indicar câncer: manchas que coçam, ardem, descamam ou sangram, feridas que não cicatrizam em quatro semanas e sinais que apresentam alteração na cor, textura, tamanho, espessura ou contorno.

Tipificação

Existem três tipos de câncer de pele: carcinoma baso celular, carcinoma epidérmico e melanoma. O primeiro aparece como uma pápula perolada e que deve ser retirada com cirurgia. O segundo consiste em um tumor ulcerado, comum no lábio inferior, que pode fazer metástase e também deve ser retirado completamente com cirurgia. Já o terceiro, é considerado maligno e tem alto potencial de produzir metástase. “Se descoberto em fase inicial, o melanoma pode ter 90% de chance de cura. Porém, quando em estado profundo, leva à morte”, explica Lilian. “Ele é escuro e comum nas pernas das mulheres e no tronco posterior dos homens. Quimioterapia e radioterapia são pouco eficientes no tratamento”.

Prevenção

A prevenção do câncer de pele se dá principalmente através da utilização de protetores solar, não só na praia e em dias de sol, mas em qualquer lugar e em dias nublados, quando os raios ultravioletas também se fazem presentes. “O protetor solar deve ser aplicado meia hora antes da exposição ao sol e reaplicado, em média, de três em três horas. São indicados produtos com fator de proteção solar (FPS) mínimo de 15”, comenta a dermatologista. “Passar o protetor deve ser um hábito de vida, assim como escovar os dentes”.

Chapéu, óculos escuros e guarda-sóis também devem ser usados. “As barracas utilizadas na praia devem ser feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As de nylon formam uma barreira de proteção pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material”, indica a SBD. A exposição solar deve ser evitada entre as 10h e as 16h.

Cuidados desde a infância

Se os cuidados com o sol durante a infância forem intensificados até os 18 anos de idade, as chances de desenvolver doenças são reduzidas em até 85%. Pesquisas realizadas pela SBD no decorrer do ano passado, em todo Brasil, indicam que entre 75% e 80% do total de radiação solar à qual um indivíduo está exposto durante toda a vida acontece até os 20 anos de idade. Por isso, os médicos dermatologistas aconselham a aplicação do filtro solar em crianças a partir do primeiro ano de vida.

Quem vivencia a experiência de descobrir um câncer de pele passa a temer exposições prolongadas ao sol e costuma fazer do protetor solar um artigo de primeira necessidade. Muitas vezes, até os familiares da pessoa vítima do problema se assustam e começam a tomar cuidados redobrados em relação ao sol.

A aposentada Berta Vera Eisfeld Rosa, de 65 anos de idade, teve um câncer do tipo carcinoma baso celular há dois anos. Ela descobriu uma feridinha escura no pescoço que coçava e nunca desaparecia. Depois de uma tentativa sem sucesso de cauterização, uma cirurgia foi realizada e uma biopsia indicou o câncer. “Fiquei muito assustada quando soube que era câncer e hoje não saio de casa sem filtro solar, pois tenho a pele, os cabelos e os olhos muito claros”, conta Berta. “Depois que tive o problema, meus filhos e minha nora também passaram a se cuidar mais e evitar exposições prolongadas ao sol”. (CV)

Micoses também assustam

Não é apenas o câncer de pele que amedronta a população no calor. Durante os meses de primavera e verão, muitas pessoas são vítimas de micoses e alergias. Na primavera, as alergias ocorrem devido ao pólen das flores. Já no verão, aparecem em função do calor excessivo.

Segundo a dermatologista Annia Cordeiro Lourenço, muitas pessoas apresentam manifestações alérgicas devido ao sol, ao uso de determinados tipos de filtros solares, à ingestão de medicamentos fotossensibilizantes, ao contato com a areia da praia e à picadas de insetos, que durante o calor se proliferam com maior intensidade. “Também devido ao calor e à transpiração excessiva, muitas pessoas apresentam urticária”, comenta.

As alergias, assim como as micoses, que são causadas por fungos, não escolhem idade nem classe social de suas vítimas, podendo aparecer tanto em crianças e adolescentes quanto em adultos e idosos. “No caso das alergias, normalmente são indicados medicamentos anti-estamínicos. Entretanto, eles mesmos podem causar reações alérgicas. Por isso, o mais correto é procurar um médico dermatologista que possa indicar um medicamento adequado para cada caso”, diz Annia.

Para se prevenir, a dermatologista aconselha as pessoas a tomarem no mínimo um banho por dia e não esquecerem de utilizar sabonete nas áreas de dobras, como axilas, órgão genitais e pescoço. (CV)

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