Vamos brincar no hospital

maissaude_brinquedoteca.jpgO quinto andar do Hospital Infantil Pequeno Príncipe é, sem dúvida, o preferido da garotada. Duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, a cena se repete: vestindo seus chinelos, pantufas e pijamas multicoloridos, as crianças são levadas por enfermeiras e voluntárias para fazer o que mais gostam: brincar. O local para isso não poderia ser mais apropriado: a brinquedoteca terapêutica, um espaço recreativo montado para que os pacientes infantis internados na instituição passem o tempo enquanto aguardam alta hospitalar.

?Se para um adulto é horrível ficar em um hospital, imagine para as crianças?, reconhece Patrícia Bertolini Isidorio, psicóloga do serviço de voluntariado e educadora brinquedista do hospital. O espaço em nada lembra o clima sombrio, tenso e de baixo-astral, que consegue ficar ainda mais pesado quando o assunto é atendimento pediátrico. R.B. de sete anos, aprova o ambiente. ?Eu não gosto de ficar aqui, mas gosto muito de brincar?, diz.

Apesar de que não exista ainda qualquer tipo de comprovação científica, admite-se que as brincadeiras ajudam (e muito) na recuperação desses pacientes. Especialistas são unânimes em afirmar que a doença e o tratamento podem provocar desequilíbrios psicológicos nas crianças. Segundo a educadora, uma das principais preocupações dos médicos é o tempo que cada criança costuma ficar no hospital. ?Como muitas ficam por longos períodos, é possível um contato muito estreito entre nossa equipe, as crianças e seus pais?, observa.

Obrigatório por lei

A Lei 11.104, de 21 de março de 2005, determina a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam tratamento infantil em regime de internação. Assim, muitos hospitais vão se movimentando para montar tais espaços. É o caso do Hospital Infantil Branca de Neve. Conforme a psicóloga Manuela Maciel, coordenadora do projeto social, apesar de a instituição receber crianças apenas para tratamentos mais ?leves?, um espaço apropriado está sendo disponibilizado para montagem de uma brinquedoteca. ?O tempo absorvido pelas brincadeiras ajuda as crianças a adquirir confiança e segurança, fazendo-as aprender a lidar com seus medos e angústias?, argumenta a especialista.

Patrícia Isidório frisa que é preciso dar vazão à criatividade infantil, seja por meio de jogos, brincadeiras ou desenhos. E aí um espaço provido de brinquedos e jogos educativos, avaliados pedagogicamente, os torna mais acolhidos e ativos. ?Assim elas esquecem um pouco de que estão num hospital?, garante.

Higienização

Os brinquedos colocados à disposição das crianças são previamente selecionados. Não tem jogo de bola (que demanda esforço físico) nem videogame (para evitar tensão e ansiedade). Brinquedos apropriados, revistas, livros, jogos pedagógicos e atividades manuais fazem parte do acervo da brinquedoteca. No Pequeno Príncipe, antes de se entregar à diversão, as crianças higienizam as mãos para evitar infecções. Aos poucos elas se acomodam nas pequenas cadeiras e mesas, esquecendo a rotina de remédios, exames e injeções que deixaram lá fora. Ao final de cada período de brincadeiras, os brinquedos passam por uma completa desinfecção.

As visitas diárias ao espaço de recreação, quando não acontecem, provocam muitas queixas entre as crianças. Nesses casos, entra em ação um grupo de voluntários que, sob prévia autorização médica, atendem as crianças nos quartos. Trazem lápis de cor e livros infantis, contam histórias, inventam personagens, trazendo momentos de descontração para as crianças internadas.

D.C.S., de oito anos, já recebeu alta, mas precisa retornar ao hospital para acompanhamento. ?Mesmo ficando pouco tempo no hospital, ela não quer ir embora sem dar uma passadinha na brinquedoteca?, conta Ana, sua mãe. E o hospital que elas achavam chato, parece não ser tão ruim. ?Aqui elas descobrem que tratar da saúde, mesmo com injeções e remédios difíceis de engolir, pode ser divertido?, completa Patrícia Isidorio.

Como o brinquedo ajuda no tratamento

– Permitindo a interiorização e a expressão de vivência da criança enferma por meio de jogos e brincadeiras.

– Auxiliando na recuperação do doente.

– Amenizando o trauma psicológico da internação.

– Propiciando momentos de lazer.

– Estimulando e conscientizando pais e/ou acompanhantes sobre a importância do ?momento lúdico? nesse processo.

 

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