Nem todos os moradores de uma cidade são felizardos em contar com uma vizinhança ordeira. Na mesma rua encontramos todos os tipos de vizinhos. Alguns são amigáveis outros silenciosos. A maior parte deles respeita sua propriedade, resolve as questões comuns na base da conversa e procura se dar bem com todos. A mesma coisa acontece com a maioria das células do nosso corpo. Grande parte delas se dá bem com as outras ao redor, fazem suas tarefas com competência, sem interferir no bem-estar das células vizinhas. Assim, por exemplo, as células do fígado deixam as do estomago trabalharem e as células do pulmão nem sonham em fazer o trabalho das células do coração.

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Isso não acontece quando nossos vizinhos são indesejáveis, aqueles que não têm consideração nenhuma por ninguém. Eles escutam música com volume altíssimo, pisam no seu gramado e estragam o seu jardim. Não se importam nenhum um pouco em manter uma convivência amigável. As células cancerígenas também são assim: nunca ouviram falar em política da boa vizinhança. Basicamente o que fazem é se multiplicar, se dividir e infernizar a vida das demais células do organismo. Espalham-se pelo corpo, causando destruição e trazendo consigo complicações generalizadas e de difícil controle.

Mutação genética

Essa proliferação celular desordenada, de causa multifatorial, é o que conhecemos por câncer. De acordo com Rodrigo Rigo, oncologista clínico, responsável técnico da Central de Quimioterapia do Hospital Santa Cruz e membro das sociedades brasileira, americana e européia de Oncologia Clínica, a origem dessa “desordem” podem ter seu start ocasionado por alguma causa genética ou produzida por fatores ambientais, como infecções, hábitos de vida ou de alimentação não saudáveis, tabagismo e exposição a certos tipos de radiação, entre outros. “De alguma maneira, a célula cancerígena perde a capacidade de se auto-regular e migra para outras regiões do corpo”, explica. Há algum tempo, acreditava-se que o segredo em se livrar da doença era selado pela herança genética. No entanto, vários estudos comprovaram que não é somente essa condição a responsável por uma vida saudável.

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O câncer tem tudo a ver com mutações sutis nos genes das células que estão se reproduzindo. “Algo cria nas células normais uma mutação genética que o sistema imunológico não conhece e contra o qual é incapaz de reagir”, reconhece o oncologista. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a neoplasia é considerada a segunda causa de morte na maioria das nações. No Brasil, é responsável por aproximadamente 15% do total de óbitos, perdendo apenas para doenças cardiovasculares. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que prevê perto de 490 mil novos casos da doença em 2020. Deste total, 52% atingirão mulheres e 48%, homens. “Esse resultado se deve à população feminina brasileira ser maior que a masculina e elas terem uma expectativa de vida maior”, explica o presidente do Instituto, Luiz Antônio Santini.

Diagnóstico precoce

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Hoje em dia, quase dá para se considerar que o diagnóstico de câncer não significa uma sentença de morte. Muitos especialistas concordam que, alguns, como o câncer de pâncreas, por exemplo, tem um índice de sobrevivência muito baixo, outros trazem possibilidades mais animadoras, dependendo da vigilância do próprio paciente com o tratamento da doença, do modo que encaram o diagnóstico sombrio e lutam contra ele. Em alguns casos (como o câncer de próstata e o de mama) é possível coexistir com a doença com pouco risco de morte.

Rodrigo Rigo reconhece que o grande salto para o controle do câncer é o diagnóstico precoce, “sabidamente uma forma de controlar a doença e, em alguns casos, até de acabar com ela.” Os estudos mostram que, no Brasil, geralmente os tumores são diagnostica,dos em estágio avançado, afetando o tratamento e diminuindo as chances de controle dos pacientes. De acordo com o dirigente do Inca, o grande desafio para o controle do câncer no País está no campo da mobilização social. “É preciso garantir a articulação de políticas de saúde com políticas de educação, rompendo preconceitos e quebrando o paradigma de que o câncer é sinônimo de morte”, completa o dirigente.

Fique longe do câncer

1. Pare de fumar! Esta é uma das regras mais importantes para prevenir o câncer.

2. Uma dieta alimentar saudável pode reduzir as chances de câncer em pelo menos 40%. Coma mais frutas, legumes, cereais e menos carnes e alimentos gordurosos.

3. Procure limitar a ingestão de bebidas alcoólicas. Além disso, incorpore a prática de exercícios físicos à sua rotina diária.

4. A mulher deve fazer um auto-exame das mamas todo mês. A partir de 40 anos, deve passar por uma mamografia. A partir dos 50 anos uma mamografia anual.

5. A mulher a partir dos 20 anos deverá submeter-se anualmente a um exame preventivo do colo do útero (papanicolau).

6. O homem deverá fazer um auto-exame dos testículos todo mês.

7. Homens e mulheres com mais de 50 anos devem solicitar ao médico um exame anual de sangue oculto nas fezes.

8. Os homens com mais de 50 anos devem procurar o médico regularmente para o exame de toque retal para prevenir o câncer de próstata.

9. Evite a exposição prolongada ao sol e use filtro protetor solar fator 15 ou superior.

10. Faça regularmente um auto-exame da boca e da pele.

Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer

Os mais frequentes

Câncer de Pele – É o de maior incidência no País, chegando a 25% dos tumores diagnosticados.

Aparelho respiratório – O câncer de pulmão demora, em média, 15 anos para surgir, após alterações da mucosa brônquica (pré-cancerosas), que pode regredir quando o paciente deixa de fumar.

Mama – É a forma mais comum entre as mulheres. A detecção precoce permite tratamento com boas chances de cura.

Leucemias – São cânceres das células do sangue. O tratamento depende do tipo e gravidade da doença.

Ginecológico – O câncer do aparelho genital feminino, especialmente do colo de útero, é o que mais mata no mundo.

Urológico – Cânceres de próstata, de bexiga e do rim correspondem a mais da metade das ocorrências em homens.