| Roger Vivekananda: "Antes do transplante, eu enxergava o mundo como se estivesse nadando em um rio lamacento?. |
Esta quinta-feira, 13 de dezembro, é comemorado o dia de Santa Luzia – a santa protetora dos olhos. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e entidades associadas usará a data para alertar às autoridades sobre a importância de investir em campanhas e recursos que permitam aumentar o número de transplantes e reduzir o drama de quem permanece nas filas de espera. A data serve também para lembrar à população de que gestos de solidariedade, por meio da doação de córneas, possibilitam que milhares de brasileiros voltem a enxergar normalmente.
O transplante de córnea pode ser considerado um dos mais importantes ?achados? da medicina. Com efeito, muita coisa mudou desde que há mais de um século, o austríaco Edward Zirm realizou a primeira cirurgia. Desde então, as técnicas não pararam de evoluir. Surgiram novos antibióticos, antiinflamatórios e imunossupressores, as microcirurgias se tornaram mais avançadas, assim como as técnicas de conservação da córnea, entre outras conquistas.
Nesse quesito, o Paraná tem muito a comemorar. É que o Estado superou, em novembro, a marca anual de 750 transplantes de córnea realizados. Os dados são da Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde. Para o oftalmologista Hamilton Moreira, presidente do CBO e coordenador do Banco de Tecidos Oculares do Hospital de Clínicas da UFPR, os números mostram que as campanhas e outras ações envolvendo o governo e as mais diversas organizações civis, começam a surtir efeitos práticos.
Rio lamacento
Apesar dos indicadores positivos registrados em muitos estados brasileiros, ainda existem muitos desafios a serem vencidos. Hamilton Moreira lembra que boa parte dos candidatos ainda precisa enfrentar filas para o transplante – mesmo nos grandes centros urbanos. É isto o que mostra um levantamento feito pela Central de Transplantes, atualizado até outubro deste ano, comprovando que mais de 1.700 pessoas estão nestas condições. O coordenador afirma que, para a maioria destas pessoas a luta contra o tempo não existiria, se 10% das famílias que perdem seus entes queridos doassem as córneas para fins de transplantes.
Esta sorte teve o músico Roger Vivekananda que contraiu ceratocone, uma doença que causa deformação na córnea, aos 17 anos de idade. Por conta da progressão da doença, antes de completar 23 anos, já tinha perdido mais de 90% da visão. ?Eu enxergava o mundo como se estivesse nadando em um rio lamacento?, recorda. Após permanecer por quatro meses na fila, Roger realizou o transplante em um olho. Voltou para a fila e esperou mais dois anos para realizar o transplante no outro. Mesmo voltando às atividades rotineiras, ele ainda tem algumas limitações visuais temporárias, por conta de sua recuperação. ?Sei que estou numa fase de transição, mas tenho planos para aprender a dirigir já em 2008?, exalta.
Fila democrática
Hamilton Moreira, no entanto, reconhece que a existência de filas para o transplante de córneas é incompatível com os avanços da medicina e com a facilidade de realização do transplante de córneas – em todas as suas etapas. O oftalmologista explica que o procedimento é indicado quando a transparência ou a curvatura da córnea estiver alterada, prejudicando a visão. O transplante consiste na substituição da córnea por uma de doador em boas condições. A cirurgia é realizada em aproximadamente 40 minutos, podendo se estender em casos mais complicados.
Um dos aspectos mais importantes do transplante de córnea em comparação com os transplantes de outros órgãos, de acordo com o especialista, é o de que, neste procedimento, não existe a necessidade de remoção do doador para um local especial, uma vez que somente a córnea é retirada e não o olho todo. Ao contrário de outros órgãos, a córnea não é vascularizada, isto facilita sua conservação, podendo ser retirada do cadáver até seis horas depois do óbito, o que simplifica e diminui os custos do transplante.
Podem ser doadores pessoas desde os 20 até os 80 anos – não importando se apresentam doenças, como miopia ou astigmatismo. Além disso, com as técnicas modernas, um mesmo doador resolve doenças diferentes em dois pacientes diferentes. O médico Cláudio Lottenberg, doutor em oftalmologia esclarece que, apesar de ser um processo simples, em razão das características do órgão, a situação do Brasil, há dez anos, era vergonhosa: longas e pouco democráticas filas. A situação só melhorou porque a fila única é bem organizada, fiscalizada pelo SUS, podendo, até, ser acompanhada pela internet.
Transplantes de córnea no PR
2001 – 459
2002 – 449
2003 – 484
2004 – 612
2005 – 466
2006 – 618
2007 – 750
Patologias que levam ao transplante
* Doenças congênitas
* Traumatismo
* Queimaduras químicas
* Infecções
* Distrofias
* Degenerações