Médicos vão examinar estudantes dos
58 municípios mais pobres do Paraná.

No Brasil, 10% das crianças que cursam a primeira série do ensino fundamental apresentam algum tipo de alteração de visão. Os problemas mais comuns costumam ser a ambliopia (quando a visão de um olho é diferente da do outro), a miopia e o astigmatismo. Entretanto, uma doença que na década de setenta foi considerada extinta no País volta a preocupar os oftalmologistas. Trata-se do tracoma, mal que atinge a membrana conjuntiva, que reveste a pálpebra superior e inferior, e a parte branca do olho.

Durante todo o mês de outubro, graças a uma parceria entre os governos federal e estadual e a Associação Paranaense de Oftalmologia, médicos oftalmologistas estarão realizando exames para identificar o tracoma em estudantes de escolas de 58 municípios paranaenses com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional. A previsão é de que 7.200 crianças de primeira a quarta séries do ensino fundamental sejam examinadas. Ontem, os exames foram realizados na escola municipal Dulcídio Florêncio Ribeiro, em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba.

Segundo a chefe do setor de oftalmologia da UFPR, Ana Tereza Ramos, o tracoma chegou ao Brasil no século XVIII, com os primeiros imigrantes. Causado pela bactéria Clamydia trachomatis (também responsável pela conjuntivite e considerada um dos menores seres vivos conhecidos), a doença atinge cerca de 146 milhões de pessoas em todo mundo, sendo mais comum em crianças do que em adultos. Estima-se que 5% das crianças das escolas da rede pública do Paraná sejam portadoras do mal.

“O tracoma é uma doença antiga e que pode ser confundida com a conjuntivite alérgica. Por isso, se a pessoa tiver conjuntivite por tempo prolongado pode ser portadora do tracoma”, explica Ana Tereza. “Os principais sinais ou sintomas do problema são: olhos irritados, vermelhos, lacrimejantes e com sensação de corpo estranho”.

Se não tratado, o tracoma faz com que os cílios rocem na córnea causando ferimentos. Nestes casos, a doença pode evoluir para a cegueira. O tratamento é feito a base de colírios e pomadas antibióticas. Porém, quando os ferimentos feitos pelos cílios causam opacidade corneana (última fase da doença), a única solução é o transplante de córnea.

“A doença passa de indivíduo para indivíduo através do contato com objetos como toalhas, lenços e fronhas contaminadas com a secreção dos olhos”, comenta a presidente da Associação Paranaense de Oftalmologia, Tânia Schaefer. “A prevenção se faz através de boas práticas de higiene pessoal”. Os médicos recomendam a lavagem freqüente de mãos e rosto e que o paciente de tracoma durma sozinho para não passar o problema a outras pessoas.

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