Substância em descongestionantes nasais pode agravar problemas respiratórios

As medicações tópicas nasais, compostas pelos descongestionantes nasais e as soluções salinas, são campeãs de vendas nas farmácias e drogarias do Brasil, não só sob prescrição médica, mas principalmente por iniciativa do próprio doente. Adultos e crianças com gripe, resfriado, rinite e sinusite fazem uso das gotas e sprays nasais para aliviar o desconforto da obstrução das vias aéreas. Estudos recentes revelaram, porém, que o conservante mais utilizado nesses medicamentos, o cloreto de benzalcônio, pode ter efeitos nocivos à mucosa nasal, com desenvolvimento de rinite medicamentosa.

Esse foi um dos assuntos debatidos no último Congresso Brasileiro de Alergia e Imunopatologia, realizado em Natal, durante o Simpósio Satélite sobre o controle das doenças alérgicas promovido pela Libbs Farmacêutica. No evento, os prós e contras do uso de conservantes foram apresentados aos especialistas, que prescrevem largamente produtos com cloreto de benzalcônio na sua composição.

A substância vem sendo usada desde 1935 indistintamente em adultos e crianças, muitas vezes de forma livre, pressupondo que seja inócua para a saúde humana. Contudo, a chefe da Unidade de Alergia e Imunologia do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, Dra. Cristina Miuki Abe Jacob, moderadora do Simpósio, ressalta que “desde a década de 80, vários relatos da literatura científica têm mostrado possível efeito sobre a mucosa respiratória. Assim, várias publicações têm apontado que pode haver efeito broncoconstritor quando o cloreto de benzalcônio é inalado, podendo ocorrer queimação, dor, sensação de sabor e odor desagradáveis, ressecamento e irritação, logo após as primeiras aplicações. A chamada rinite medicamentosa (ou de rebote), que era atribuída somente aos descongestionantes tópicos nasais, parece também ser ocasionada pelo cloreto de benzalcônio”.

Todos os remédios são preservados de alguma forma, para que fiquem estocados por um período comercialmente viável, mantendo sua composição química e propriedades farmacológicas, e isto não é diferente para os descongestionantes nasais. Não só as soluções salinas (as medicações tópicas nasais mais comuns), mas também vários outros medicamentos utilizados diretamente no nariz contêm o cloreto de benzalcônio na sua composição. São eles: vasoconstritores de curta e longa duração, brometo de ipratrópio, cromoglicato, anti-histamínicos e glicocorticóides, muitos deles utilizados em crianças com problemas respiratórios sérios, como a asma.

Segundo a pediatra Dra. Paula Nireki, médica pediatra do Hospital São Camilo de Santana e Hospital Ipiranga, “a irrigação nasal com soluções salinas é recomendada quando há obstrução, seja qual for a causa, várias vezes ao dia. É muito utilizada há décadas em adultos e crianças, principalmente entre os pacientes que apresentam rinossinusite crônica, rinite ou asma, além de condições agudas como gripe e resfriados, que são muito freqüentes.” A aplicação pode ser feita com conta-gotas, por aspersão de jato (spray), inspirando-se a solução para eliminá-la pela boca ou por inalação com máscara. A intenção do procedimento é promover a limpeza de secreções e crostas, tornando as fossas nasais permeáveis à corrente aérea.

Mas a Dra. Paula Nireki, alerta que “devido à presença do cloreto de benzalcônio na composição desses produtos, seu uso deve ser mais cuidadoso e menos freqüente, não devendo ultrapassar uma semana”. O problema é que para pacientes com rinite persistente (de moderada a grave) geralmente são prescritos corticóides tópicos nasais de uso prolongado (durante mais de 30 dias). Segundo estudo publicado na revista Clin. Exp. Allergy, em 1995, a presença do cloreto de benzalcônio no medicamento, além de fazê-lo não resolver o problema, pode agravá-lo, ocasionando uma nova alergia.

Por motivos como esses acima, alguns especialistas recomendam o uso de soluções para nebulização sem cloreto de benzalcônio, formuladas em condições estéreis e disponíveis em frascos de dosagem unitária. Alguns médicos e pacientes já se habituaram a utilizar soro fisiológico sem conservante, adquirido em farmácias ou feito em casa, e que deve ser mantido em geladeira. Mas o soro não deve ser usado gelado, por causa da sua capacidade de deflagrar reações desagradáveis no paciente.

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