Resistência bacteriana é tema de congresso em São Paulo

O problema da resistência bacteriana e do aumento das superbactérias foi tema principal do XXXII Congresso Brasileiro de Pediatria, realizado em São Paulo, na última quarta-feira. Mais de mil especialistas brasileiros participaram da palestra realizada pelo consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ron Dagan, a convite da GlaxoSmithKline. Dagan disse que a proliferação de comunidades de superbactérias e a questão da resistência das mesmas é um fato indiscutível. No entanto, para reverter o aumento dessa resistência, o diretor da Unidade de Doenças Infecciosas Pediátricas do Hospital

Universitário de Soroka (em Israel) recomenda uma seleção mais qualificada dos antibióticos oferecidos.

A resistência bacteriana causada pelo uso de antibióticos inadequados preocupa especialistas do mundo inteiro e mobiliza os grandes fabricantes de medicamentos. Embora a indústria invista cada vez mais em pesquisa e desenvolvimento de antibióticos mais eficazes e menos agressivos, os médicos pedem cautela na prescrição dessa classe de medicamentos. Para Dagan, o uso de antibióticos, recomendados por diagnósticos corretos, ainda é essencial em alguns casos. “É consenso entre os médicos internacionais a indicação de um medicamento que mistura dose dobrada de amoxilina e clavulanato de potássio e os resultados têm se mostrado satisfatórios. É um medicamento mais forte, seletivo e por isso eficaz. O uso de medicamentos como esse aumenta o sucesso no tratamento e diminui as chances de resistência bacteriana e, por conseqüência, reincidência da doença. Dessa forma, conteremos as bactérias e trataremos a doença de maneira apropriada”, comenta o especialista.

Durante o simpósio, Ron Dagan também falou da importância do trabalho preventivo, sem descartar a necessidade dos antibióticos de determinados casos. Segundo o médico, esse é um investimento a longo prazo e consiste não só num reforço na área de saúde, como também numa restruturação social, mudando hábitos e locais considerados pouco saudáveis. “É claro que seria muito mais barato e eficaz investir em prevenção, mas infelizmente não é possível prevenir tudo. Nos próximos dez anos, não poderemos reduzir tanto o índice de infecções a ponto de não precisarmos mais usar antibióticos. Nos países em desenvolvimento, onde há muitas pessoas morando em um único espaço, se locomovendo em meios de transportes lotados e muitas crianças em uma mesma classe, as infecções bacterianas ainda vão se espalhar facilmente. Os antibióticos são necessários em alguns casos. O importante é usá-los com cautela”, recomenda o consultor da OMS.

Atualmente, cerca de 75% das bactérias associadas a doenças das via aéreas, como otite média aguda, representam novas classes bacterianas, a maioria delas provenientes de mutações causadas pelo mal uso de antibióticos. O Brasil, assim como os EUA, é um dos países que mais prescrevem antibióticos indiscriminadamente. Para o infectologista da Escola Paulista de Medicina e um dos moderadores do congresso, Calil Farhat, receber especialistas internacionais, como Ron Dagan, é muito importante para a troca de experiências. “A resistência bacteriana é um problema que vem se estendendo por países em todo o mundo, independente do desenvolvimento econômico de cada local. Um evento como esse, respaldado pela presença de um consultor da OMS, é muito importante para a atualização dos médicos e para evolução do tratamento destinado ao problema”, comenta Farhat.

A resistência bacteriana, causada pelo uso de antibióticos inadequados e mais comum em crianças, passou a ser tema principal de várias instituições internacionais. Muitos países prescrevem antibióticos em excesso e sem necessidade.

Esse uso prolongado pode causar efeitos colaterais graves, como a destruição da flora intestinal infantil.

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