Poluição é a grande vilã da saúde humana

Mesmo com novas técnicas de monitoramento do ar, e com o surgimento de novo órgãos ambientais, a cada ano o problema da poluição piora. Este fator, que destrói o meio ambiente e a saúde do homem, parece não estar sob controle. Os números mostram que está tudo dentro dos parâmetros determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, não é isso que médicos e população indicam. Enxofre, nitrogênio, ozônio, poeira, fuligem, carbono. São estas substâncias que cada vez mais compõem o ar.

?Estas substâncias atacam todo o tipo de ser vivo, incluindo os vegetais. Além disso, a poluição prejudica até as paredes dos prédios, como fazem as substâncias químicas lançadas no ar, que são corrosivas. Outro problema grave é o aquecimento global. O CO2 ( gás carbono) emitido pelos veículos, podemos não sentir no dia-a-dia, mas aumenta o efeito estufa e a temperatura do planeta. Aumento no número de casos de estiagem, ressaca, secas, cheias. Ninguém sabe, mas esses fenômenos podem estar ligados aos efeitos da poluição?, afirma Nelson Luis Dias, engenheiro ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Pode até aparecer sem cor ou cheiro, mas a poluição do ar ataca diretamente a saúde humana. Pulmões e pele são os órgãos mais prejudicados. No entanto, problemas de circulação e muitas alergias podem vir com a sujeira do ar.

Jairo Sponholz Araújo é pneumologista do Hospital de Clínicas (HC). No hospital em que atende, ele diz que são comuns os atendimentos às doenças respiratórias. ?Às vezes a pessoa chega com uma doença grave ou uma crise forte de asma, mas nem sabe que é causado pela poluição. Além da sujeira do ar, existe uma série de substâncias químicas oxidantes que inflamam o tecido pulmonar, o nariz e a garganta. Isso prejudica qualquer pessoa, mas principalmente os que já têm algum problema respiratório. Os quadros de asma, sinusite e bronquite pioram. Pessoas com problemas cardíacos também sofrem, pois essas doenças são exacerbadas pela poluição?, explica o médico.

Ainda segundo Araújo, as doenças respiratórias provocadas pela poluição vão desde uma simples irritação da via aérea, deixando a pessoa mais suscetível à gripe, até o desenvolvimento de doenças pulmonares crônicas, igual às ocasionadas pelo cigarro. ?Quando falamos de doenças respiratórias causadas pela poluição, podemos falar de dois tipos de poluição: a interna e a externa. Interna é aquela de dentro de casa, com o fogão à lenha ou o cigarro, que é uma fonte de poluição terrível, ou de dentro do ambiente de trabalho?, afirma.

Como sugere o médico, entre os cuidados que se pode tomar para amenizar os efeitos nocivos da poluição estão a ingestão de substâncias antioxidantes, como verduras, uva, chá e outros alimentos que têm efeito protetor. No entanto, Araújo lembra que certos poluentes – mercúrio, chumbo e outros metais pesados – causam doenças específicas e são tão ?fortes? que não podem ser revertidos.

Pele

Segundo o dermatologista Luiz Carlos Pereira, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), um dos efeitos da poluição é reduzir a camada de ozônio. Com essas modificações atmosféricas, o sol também acaba se tornando mais agressivo. ?Estamos sentindo que o sol é um fator de risco atualmente. A pele mais clara tem pouca melanina, que protege a pele, e quando atingida pela radiação fica vermelha, ou seja, tem queimaduras. Isso ocasiona mudança nas células, alterando os fatores de proteção e provocando o envelhecimento, podendo levar até a um tumor de pele?, expõe. Segundo ele, mesmo fazendo uso do protetor solar, é essencial que haja cuidado com ao horário e a exposição.

Além dos males provocados pelo sol, o dermatologista ainda explica que os próprios poluentes também são prejudiciais à pele. ?Os gases emitidos por indústrias e veículos, a poeira, até a fumaça do cigarro são tóxicos e a pele, assim como o couro cabeludo, absorve essas toxinas. A pressão da poluição também estressa a pele?, orienta Pereira.

Problema controlado em Araucária

Uma das cidades mais industrializadas do Paraná é Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Pela quantidade de indústrias no município, muitas organizações ambientais freqüentemente classificam a região como também a que mais polui e mais registra casos de males provocados pela poluição. No entanto, não é isso que confirma o biólogo da Secretaria de Meio Ambiente do Município, Hélio Dzuneck.

De acordo com Dzuneck, a poluição é um problema em qualquer lugar onde haja atividade industrial. ?Aqui em Araucária não há nada mais alarmante do que qualquer outro lugar. Muitos dizem que somos um dos mais poluídos municípios do Brasil, mas nossos dados não mostram isso. A poluição está sob controle no município?, diz. Segundo ele, não é apenas a poluição das indústrias, ou seja, a fixa, que pesa no município. A poluição móvel, dos veículos, também conta, pois o fluxo de veículos grandes que passam pela Rodovia dos Minérios é grande.

O biólogo afirma que desde 1985 há o monitoramento do ar em Araucária. Esse trabalho é feito pelas sete estações mantidas no município: três manuais gerenciadas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), uma manual mantida pela Prefeitura em parceria com a Lactec e outras três automáticas, mantidas pelo IAP em parceria com empresas da região.

Jardim Alvorada

Apesar de os dados não mostrarem, no Jardim Alvorada, em Araucária, uma área bastante industrializada, muita gente reclama da poluição atmosférica, sonora e cheiro forte no ar. ?Faz dez anos que eu moro aqui. Nos dias mais nublados, a poluição parece que baixa, o ar fica muito pesado e o cheiro fica insuportável. Minha filha de oito meses está com bronquite, a médica disse que é por causa da poluição. Eu só não mudo por que não tenho como?, conta a moradora Sônia Bueno.

Lurdes Jacinto mora do Jardim Alvorada há 20 anos. Ela diz que sempre teve problema de poluição e ainda hoje está bem melhor. ?O que me incomoda mesmo é o barulho que faz a máquina, o picador, o dia todo?, reclama.

Sema realiza um trabalho de monitoramento

Pelo projeto Gestão Qualidade do Ar, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), através do Instituto Ambiental do Paraná, faz o monitoramento da qualidade do ar. Atualmente existem doze estações, quatro automáticas localizadas em Curitiba – na Cidade Industrial, Santa Cândida, Boqueirão e Praça Ouvidor Pardinho; outras quatro em Araucária; e mais quatro estações manuais.

Entre os indicadores analisados estão as Partículas Totais em Suspensão (PTS); a Fumaça; as Partículas Inaláveis (PI ou PM10); o Dióxido de Enxofre (SO2); o Monóxido de Carbono (CO); o Ozônio (O3); e o Dióxido de Nitrogênio (NO2) .

Segundo a coordenadora do Monitoramento, Maria da Graça Patza, em 90% do tempo a qualidade do ar no Estado é boa, ou seja, não existem graves problemas de poluição do ar. Apesar de no Interior do Paraná ainda não existir o monitoramento, a idéia é expandir esse trabalho para as demais regiões.

?A partir de 2007, vamos ter estações em Londrina, Maringá e Ponta Grossa, em uma primeira leva, e depois em Cascavel e Foz do Iguaçu?, afirma. Ela ainda conta que os boletins, que atualmente são anuais e mensais, em 2007 passarão a ser semanais até que possam se tornar diários.

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