Paranaense localiza gene que expõe homem à lepra

O pesquisador paranaense Marcelo Távora Mira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, é o principal autor do trabalho inédito que descreve a localização do gene que torna o ser humano suscetível à lepra. O trabalho será publicado em março, na revista inglesa Nature Genetics, principal publicação mundial da área. A identificação do gene é um passo fundamental no desenvolvimento de estratégias de prevenção e diagnóstico da doença. O trabalho de Mira começou há mais de três anos, quando ele juntou-se a uma equipe internacional, liderada pelo pesquisador Erwin Schur, do McGill University Health Centre, de Montreal, no Canadá, centro de referência mundial para pesquisa genética.

“Apenas um pequeno número de pessoas expostas ao bacilo da hanseníase (Mycobacterium leprae) desenvolve a doença. Isso comprova a suscetibilidade genética da doença”, explica Mira. Para alcançar o gene, a equipe utilizou uma técnica chamada “genome scanning”, ou scan genômico, que consiste em escanear os cromossomos humanos. O genoma humano conta com aproximadamente 3 bilhões de unidades químicas (nucleotídeos) e cerca de 30 mil genes. “Imagine encontrar uma pessoa sabendo apenas que ela mora no planeta Terra”, compara o pesquisador. O trabalho só foi possível graças a tecnologia disponível no Montreal Genome Center e no Montreal General Hospital Research, ambos parte da McGill University.

Os pesquisadores analisaram inicialmente uma coleção de 86 famílias suscetíveis à doença e descobriram que essa famílias compartilhavam uma variação genética comum no cromossomo 6. Em uma segunda etapa, uma coleção adicional de duzentas famílias foi investigada para a confirmação do achado.

A hanseníase ou lepra é uma doença infecciosa crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que afeta principalmente a pele e o sistema nervoso periférico. Apesar de castigar a humanidade por milhares de anos, pouco se sabe sobre as bases moleculares da doença. Sintomas incluem o surgimento de lesões de pele com perda de sensação de dor nas áreas afetadas e lesões permanentes dos nervos que evoluem para graves deformidades, tais como a perda de dedos, mãos, orelha e nariz. O Brasil, com cerca de 78 mil casos registrados e outros 41 mil surgindo a cada ano (OMS, 2001), tem a segunda população mais afetada pela doença no mundo.

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