O incômodo e as dores do cálculo renal

José Emanuel Ribeiro Gonçalves, vendedor de automóveis, 53 anos de idade, não gosta nem de lembrar das dores de um cálculo renal que lhe incomodava há dois anos.

“Freqüentemente, tinha que me internar, já que somente com a aplicação de soro com analgésicos a dor passava”, recorda.

Depois de passar por uma litotripsia nunca mais voltou a sofrer com o distúrbio.

Por seu lado, Maria Aparecida Costa Mastronianni passou por dois episódios de cálculo renal.

Ela, que já teve dois filhos por parto normal, elege a cólica como a dor mais aguda que já sentiu. “Os meus partos transcorreram sem dor, bem diferente da crise de cálculo renal”, comenta.

Dor muito intensa na região próxima aos rins, acompanhada por náuseas e vômitos, infecção urinária e presença de sangue na urina podem ser alguns dos sintomas de uma crise de cálculo renal, também conhecida como pedra no rim. As estatísticas revelam que em torno de 12% da população mundial apresenta cálculos urinários, mais freqüentemente na faixa que vai dos 20 aos 45 anos.

O cálculo (ou pedra) é o produto final da agregação de vários sais, principalmente sais de cálcio, dentro do aparelho urinário, e geralmente aparece quando ocorre um desequilíbrio na eliminação de água e sais na urina. Ou seja, se uma pessoa urina pouco e elimina muitos sais pode formar cálculo renal.

Investigando as causas

De acordo com o nefrologista Maurício de Carvalho, professor da disciplina de Nefrologia da PUCPR, a prevalência de casos de cálculo renal aumentou nos últimos anos devido a problemas como sedentarismo e obesidade e ao consumo excessivo de sódio (sal de cozinha) e proteína animal (carne vermelha).

A pedra cresce e prejudica a eliminação de urina. “Com isso, ocorre uma dilatação do trato urinário que, se não tratada, pode levar à atrofia e à perda de função do rim afetado”, explica.

De acordo com o especialista, o tratamento do cálculo renal envolve três passos: alívio da dor, eliminação da pedra e a consulta a um nefrologista para investigar a causa da formação da pedra, que indicará medidas de prevenção de novos cálculos.

Entre essas medidas, uma das mais importantes é a ingestão de líquidos, principalmente de água (pelo menos dois litros por dia). “Quanto maior a diluição dos sais presentes na urina, menor a chance de formação de cristais e conseqüentemente de cálculos urinários.”

Por outro lado, existem alimentos que podem facilitar o aparecimento de cálculos, por isso, a orientação dietética é muito importante e às vezes se constitui na única medida a ser empregada para combater o distúrbio. O nefrologista lembra que a ingestão de cálcio deve ser normal e não diminuída.

“Pessoas com cálculo renal que diminuíram muito a ingestão de cálcio (contido principalmente no leite e derivados) tiveram maiores taxas de recorrência e alguns apresentaram diminuição da densidade óssea e osteoporose”, ressalta Carvalho.

Medidas preventivas

Apesar disso, não é comum que se busque o diagnóstico precoce do cálculo renal. Na maioria dos casos, ele é feito somente quando o paciente procura o médico por já estar sentindo dores.

Se medidas de prevenção não forem adotadas, em cinco anos, de 50% a 100% daqueles que tiveram problemas de cálculos nos rins podem voltar a tê-las. “Sem medidas preventivas, a recorrência do cálculo é apenas uma questão de tempo”, alerta o médico.

Para a eliminação das pedras, a intervenção para retirada vai desde a utilização de ondas de ultra-som (litotripsia extracorpórea) para a quebra dos cálculos e, em poucos casos, uma cirurgia aberta.”A litotripsia é um dos tratamentos mais utilizados. Não exige internação nem cortes. O paciente é tratado no próprio ambulatório”, completa Maurício Carvalho.

Dieta controlada

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Recentes estudos estão provando que pessoas com dieta rica em cálcio têm chance menor de desenvolver cálculos renais. Já aqueles com dieta normal, mas que tomam comprimidos de cálcio por algum motivo, aumentam esse risco. Isso ainda não está bem explicado cientificamente. Para o nefrologista Paulo Ayrosa Galvão parece que o cálcio da dieta não interfere na formação dos cálculos.

Além disso, existem outros alimentos também contra-indicados para pessoas com propensão aos cálculos renais – algumas proteínas e o sal. Estudos em andamento indicam que refrigerantes ricos em fosfato e o suco de tomate tomados todos os dias também favorece a formação de cálculos.

A vitamina C, que muitas pessoas tomam regularmente por achar que é bom para a saúde, em altas doses, estimula a excreção de oxalato que pode provocar aumento na freqüência dos cálculos.

Fatores de risco

” Idade entre 20 e 45 anos
” É três vezes mais comum em homens do que em mulheres
” Perda excessiva de líquidos através do suor
” Ocorrência de distúrbios genéticos, como gota e cistinúria
” Problemas renais endócrinos e intestinais
” Uso incorreto de medicações
” Infecção urinária
” Baixo consumo de líquidos
” Desordens alimentares