O conhecimento popular versus o científico

Tratar doenças, manter e recuperar a saúde, além de reequilibrar o organismo.

Estas são as funções dos medicamentos fitoterápicos, aqueles remédios extraídos de plantas medicinais, encontradas em farmácias de manipulação, herbários, casas especializadas em plantas medicinais, casas de produtos naturais e, hoje em dia, até em supermercados, na forma de chás. Eles são apresentados nas mais diversas formas: chás, extratos vegetais, pomadas, tinturas e cápsulas.

Muitas vezes, já se comprovou que, quando utilizados de maneira adequada, os fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, às vezes, superiores aos dos medicamentos convencionais, além de terem seus efeitos colaterais minimizados.

Um exemplo é a valeriana (Valeriana officinalis) que vem sendo usada no tratamento de insônia e que, ao contrário dos medicamentos convencionais, não provoca dependência nem tolerância. No entanto, se ingerida em grandes quantidades e por tempo prolongado, ela pode ser tóxica para o fígado.

Segurança comprovada

Com efeito, a utilização inadequada dos fitoterápicos, como a automedicação, pode trazer uma série de efeitos colaterais. “Entre os principais problemas causados, por seu uso indiscriminado e prolongado, estão as reações alérgicas, os efeitos tóxicos graves em vários órgãos e, mesmo, o desenvolvimento de certos tipos de câncer”, adverte Elisaldo Carlini, pesquisador da Unifesp, chamando a atenção para a importância de educar a população, conscientizando-a sobre o uso adequado das plantas e medicamentos ditos naturais.

No Brasil, conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para serem comercializados, os fitoterápicos precisam de um registro, passando por diversos testes a fim de que sua eficácia e segurança se comprove.

Isso não vale para aqueles largamente usados no mundo e que constem com sua descrição publicada nos livros de literatura científica. Muitas plantas naturais são aprovadas cientificamente para o alívio e cura de muitas doenças, além de ajudar no combate de outras, como estresse, fadiga, expectoração e cicatrização de feridas, entre outras.

Testada cientificamente

Tal conjunto de conhecimentos sobre o uso de plantas torna a fitoterapia uma opção para milhares de brasileiros que não têm acesso às práticas médicas oficiais, devido os altos custos, principalmente no que diz respeito às consultas médicas especializadas e ao uso de medicamentosalopáticos.

Conforme o pesquisador botânico Ulysses Albuquerque, o conhecimento tradicional sobre o uso de plantas tem demonstrado sua eficácia e validade em muitos casos. No entanto, no seu entender, nem todas as práticas e receitas populares são eficazes, “ao contrário, muitas podem ser altamente danosas à saúde”, relata.

Outra constatação do especialista é de que muitas pessoas substituem a receita do seu médico, sem qualquer orientação, por um remédio à base de plantas medicinais.

As razões para tanto são, entre outras, a falta de recursos financeiros para adquirir medicamentos receitados, o medo de sofrer efeitos indesejáveis e a opção por medicamentos e consultas junto a especialistas populares.

Albuquerque salienta que, muito embora se reconheça a legitimidade do conhecimento tradicional, uma planta para ser usada como medicamento deve ter sido previamente e cientificamente validada.

Avaliação de risco

“Todo teste clínico de um medicamento fitoterápico deve ter a duração de pelo menos 90 dias, para comprovar a sua eficácia”, alega Luís Carlos Marques, do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, especialista em produtos fitoterápicos da Universidade Estadual de Maringá.

Ele comenta que, com o registro, muitos produtos que estão em fase de teste, podem sair da fase meramente popular para ganhar o status de medicamento científico.

,Para isso, terão que cumprir várias etapas, que vão desde a comprovação da sua atividade atribuída, passam pela avaliação dos riscos de seu uso, até a sua produção industrial.

Diante das carências financeiras, parece fora de dúvida que a fitoterapia é uma alternativa viável para a maioria dos brasileiros. Albuquerque registra que, se por um lado existe a necessidade de comprovação da eficácia de plantas usadas popularmente, por outro, é preciso reverter os conhecimentos adquiridos em benefício das pessoas e obter um maior envolvimento da classe médica.

“Apesar dos muitos estudos comprovando cientificamente as atividades atribuídas a muitas plantas, muitos profissionais de saúde possuem a concepção de que a fitoterapia nada mais é do que um conhecimento baseado na crendice popular”, reconhece.

Entendendo as diferenças

As pessoas relacionam produtos fitoterápicos com os homeopáticos, acreditando que ambos são sinônimos.

Esta inverdade confunde a cabeça do consumidor, que ainda é bombardeado diariamente com uma enxurrada de desinformações.

Criada pelo pesquisador e médico alemão Christian Samuel Hahnemann, a homeopatia surgiu há mais de dois séculos.

Ele acredita que um desequilíbrio físico e mental é capaz de ser curado naturalmente associando o uso de substâncias naturais diluídas (Lei do Semelhante). Hahnemann percebeu que a associação dessas substâncias pode ser combatida pelo próprio equilíbrio do organismo.

A homeopatia se utiliza do reino animal, vegetal e mineral enquanto na fitoterapia somente o reino vegetal está envolvido. A fitoterapia usada como prevenção está se difundindo não apenas no Brasil, mas em países europeus como Alemanha, França e Itália. Tem se revelado um mercado em expansão com o objetivo de melhorar o cotidiano das pessoas que almejam uma vida mais equilibrada com a natureza.

Legislação é rigorosa

Apesar de o Brasil ser considerado celeiro do mundo em variedades de espécies vegetais, há poucos produtos fitoterápicos genuinamente brasileiros registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Mas a falta de registro não impede o grande consumo de remédios caseiros à base de plantas, num país em que uma parcela considerável da população não tem acesso a medicamentos.

O uso caseiro de sementes e plantas não é controlado pela Anvisa, mas quando transformadas em extrato, dando origem a um medicamento fitoterápico, precisam da homologação desse órgão fiscalizador.

“O fitoterápico é um medicamento como outro qualquer, a única característica própria é que ele só pode ter como componente ativo aquele que vai funcionar no medicamento, um princípio vegetal”, explica Edmundo Machado Netto, técnico da Anvisa.

O consumidor ainda encontra muitos produtos irregulares nas prateleiras e, para fugir do rigor da legislação, muitos produtos são vendidos como suplementos alimentares.

Aqueles que obtiveram regularização junto ao Ministério da Saúde (MS) devem ter a expressão fitoterápico e ter no seu rótulo o número de inscrição no MS. Independente de as regras da Anvisa serem ou não muito rígidas é preciso tomar cuidado ao comprar plantas medicinais e fitoterápicos.