Nenhuma mãe precisa dar à luz sozinha

Evelin, hoje com dois meses de idade, filha da brasiliense Juliana Cristina, nasceu de parto normal em um hospital público. Sua mãe chegou à maternidade para uma consulta, mas, como o líquido amniótico (que envolve o bebê) havia diminuído de volume, foi logo internada. A avó fez companhia para Juliana, auxiliando-a a caminhar pelo corredor, para diminuir as dores que aumentavam a cada contração, e segurando a mão da neta na hora do parto, chorou de emoção ao ver a bisneta nascer. A mãe comemorou a experiência de ter tido um filho em ambiente com a presença de um acompanhante.

Isso só foi possível devido a uma portaria assinada pelo ministro Saraiva Felipe durante a II Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, no Rio de Janeiro, em dezembro. Nela, gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ganharam o direito de escolher, entre amigos e parentes, alguém de sua confiança para estar presente na sala de parto e também no pós-parto. A medida visa melhorar a qualidade do atendimento às gestantes e humanizar os partos no país.

Laços de família

Profissionais de saúde já constataram a relação entre a participação de acompanhantes na assistência ao parto e a redução nos casos de violência familiar. Segundo esses especialistas, ao acompanhar o processo, o homem começa a admirar e valorizar mais a companheira. Para especialistas, há um momento no pós-parto em que se estabelece o vínculo emocional entre mãe e filho e, se o pai participa, isso fortalece esse laço na família e se desenvolve uma relação de respeito entre seus membros. A especialista Daphne Rattner lamenta que nos partos cirúrgicos, em que raramente é permitido que o companheiro participe, perde-se a chance de viver essa experiência.

Com os avanços da tecnologia, da medicina e dos diagnósticos nas últimas décadas, houve muitas mudanças na forma de atendimento aos partos. Medicamentos passaram a ser administrados mais freqüentemente e os protocolos ficaram cada vez mais rígidos quanto à permanência de pessoas que não são do corpo clínico durante o parto. Nessa situação, a mulher se sente sozinha, no meio de pessoas estranhas com as quais não tem qualquer intimidade. E em muitos hospitais as rotinas impõem aos bebês uma série de procedimentos antes que sejam levados, finalmente, à mãe.

?A presença do acompanhante é um direito de todas as mulheres da sociedade?, afirma a diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Cristina Boaretto. Para ela, a lei, à primeira vista, parece não ter uma dimensão muito grande, mas se torna ainda mais importante por ser uma vitória da sociedade, proporcionando melhores condições na assistência obstétrica.

Redução de cesáreas

?Durante o parto, o medo leva à tensão, que leva à dor, que leva a mais medo?, garante Daphne Rattner. Com efeito, a presença de uma pessoa de confiança da mulher transmite mais segurança durante o período de parto e pós-parto, se tornando um dos fatores que contribuem para a humanização desse procedimento. A especialista acredita, até, que a adoção da nova lei pode ajudar na redução do número de cesarianas.

Ela faz referência a estudos científicos, nacionais e internacionais, realizados em mais de 5 mil mulheres, em que as gestantes que contaram com a presença de acompanhantes se sentiram mais seguras e confiantes durante o parto. Nessas circunstâncias, registrou-se também a redução da necessidade de medicações para alívio da dor, da duração do trabalho de parto e do número de cesáreas. Alguns estudos ainda sugerem a possibilidade de essa presença trazer outros efeitos a médio prazo, como a  diminuição dos casos de depressão pós-parto. 

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