Mundo tem 40 milhões de aidéticos, 2 milhões na AL

Paris

? Mais de dois milhões de pessoas convivem atualmente com o HIV na América Latina e Caribe, incluídas as cerca de 200 mil que contraíram o vírus este ano, período no qual cem mil morreram de aids, segundo números do informe 2003 da Onuaids sobre a situação da epidemia no mundo, publicado ontem.

O informe destacou que no Brasil vive “a grande maioria das pessoas” soropositivas da região, mas reconheceu os resultados positivos dos programas de prevenção e tratamento dos soropositivos no Brasil, lembrando que o País “não pode dormir sobre suas glórias”, ao destacar, por exemplo, a alta taxa de predominância da doença entre as mulheres grávidas do Rio Grande do Sul.

No mundo, a epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida matou mais de três milhões de pessoas em 2003. Estima-se que cinco milhões tenham contraído o vírus HIV, o que eleva o número de soropositivos para 40 milhões de pessoas, um indício claro de que a epidemia está longe de ser controlada.

A África subsaariana continua sendo a região mais afetada pela epidemia, com 26,6 milhões de casos e 2,3 milhões de mortos. América Latina e Caribe têm “o mais alto número de vítimas fatais em escala regional, depois da África subsaariana e da Ásia”, destacou o informe.

Doze países da região do Caribe têm uma predominância nacional de HIV de pelo menos 1% e em seis deles a predominância entre as mulheres atinge ou supera os 2%. Entre estes estão a República Dominicana e o Haiti, países que têm “duas das epidemias mais graves da região”.

Ao contrário, a maioria dos outros países da região apresenta “epidemias altamente concentradas”, em particular o Brasil, onde vive a maioria dos soropositivos da região.

O informe destacou que há “modelos epidemiológicos característicos”, com uma coexistência dos principais fatores de transmissão (início precoce da vida sexual, relações promíscuas sem proteção, uso de seringas não esterilizadas), mas reforçou que “as relações sexuais entre homens são uma característica importante, não reconhecida em seu justo grau, da epidemia na América Latina”.

A Onuaids alertou que “será impossível vencer a epidemia”, enquanto os países não reconhecerem as “razões ocultas, embora alastradas” da mesma, ou seja, o consumo de drogas intravenosas e as relações homossexuais masculinas. “Estigmatizar e negar estes comportamentos só pode avivar a propagação silenciosa da epidemia”, insistiu.

Finalmente, a Onuaids destacou que muitos países latino-americanos “reforçaram recentemente as respostas à aids, mas que existe a preocupação de que a instabilidade econômica e social que se observa em parte da região possa enfraquecer estes programas”.

Aids e gravidez crescem entre jovens

Em Curitiba 25% das grávidas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são adolescentes. É muito comum que por vergonha ou medo procurem o médico para os exames pré-natais somente a partir do quinto mês de gestação, o que pode ser prejudicial para a saúde da mãe e do bebê. Além disso, dados do Ministério da Saúde revelam que este foi o segmento que apresentou maior crescimento na transmissão do vírus da aids no ano passado. Pesando em mudar esta realidade a Prefeitura de Curitiba lançou ontem o projeto Sexualidade: Prazer em conhecer, que levanta a discussão entre os próprios jovens.

O material que vai ser usado no projeto foi elaborado pela Fundação Roberto Marinho e abrange vinte temas sobre sexualidade, como o preconceito, gravidez, relações familiares e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). O gerente de teleeducação da entidade, Nelson Santonieri, explica que o material foi criado a partir dos questionamentos dos adolescentes. Nos vídeos são eles que aparecem discutindo os assuntos, questionando e dando opiniões. “O jovem se identifica. A discussão acontece de baixo para cima”, explica. O material também é compostos por cartilhas para a capacitação dos docentes. A intenção é atingir 3.500 adolescentes de onze escolas municipais de quinta a oitava série.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Michele Caputo, o problema de gravidez e DSTs entre os adolescentes é preocupante. Ele comenta que no ano passado este foi o segmento que apresentou maior crescimento de contaminação por HIV. Por isso, desde o ano passado a cidade já oferece o programa Adolescente Saudável, que busca informar o jovem e ainda fornece preservativos.

A coordenadora do programa, Júlia Cordellini, revela que as adolescentes em geral só procuram o posto de saúde quando a gravidez já está adiantada. A situação geralmente ocorre porque ela tem vergonha ou medo da reação da própria família.

Geralmente, além das meninas, os meninos enfrentam problemas psicológicos e econômicos. “Eles estão imaturos e não estão prontos para serem pais”, diz Júlia. Outra situação que preocupa é a perpetuação do ciclo de pobreza, a adolescente geralmente pára de estudar e com uma formação incompleta acaba vivendo de subempregos.

De acordo com a coordenadora, vários fatores colaboram para a gravidez na adolescência, como a desinformação, falta de perspectiva de vida e repetição de um modelo familiar.

A aids nesta faixa etária também tem preocupado. Dados do Ministério da Saúde apontam que 13% do total de casos notificados no País entre 1980 e 1999 são de pessoas com idade entre 15 e 24 anos. Também são ainda parceiros no projeto a Schering do Brasil e a Unimed Curitiba.

Maternidade aos 10 anos de idade

Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde feita em 1996 mostrava que 14% das adolescentes brasileiras já tinham pelo menos um filho. Entre as garotas grávidas atendidas pelo SUS de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos de gravidêz entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar em hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos – quase 3 mil delas na faixa dos 10 aos 14 anos.

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