Professores de educação física e especialistas em medicina do exercício alertam: mulheres que tomam testosterona sem controle (esteróides anabolizantes em comprimidos, ampolas ou injeções) correm riscos de sofrer sérios problemas de saúde. A procura por musculação pesada aliada a drogas proibidas em busca de um corpo hipertrofiado pode levar à masculinização, com efeitos irreversíveis, como o engrossamento da voz.

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A testosterona não serve só para aumentar os músculos nas mulheres. Pesquisadores americanos acreditam que doses do hormônio poderiam aumentar a libido não apenas dos homens na andropausa, mas também das mulheres. Grandes indústrias farmacêuticas já estão testando um adesivo com testosterona para mulheres que perderam o apetite sexual. As doses têm que ser muito menores do que as dos homens.

– Em casos especiais de mulheres com queixa de diminuição do desejo sexual, costumo indicar comprimidos à base de testosterona, em doses controladas, que aumentam a libido, mas não são garantia do orgasmo. As mulheres que experimentaram estão satisfeitas. Ainda este ano deve chegar ao Brasil o produto em forma de gel – diz o endocrinologista Amélio Godoy Matos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

O maior cuidado deve ser com as doses. Mulheres que tomam testosterona demais podem se masculinizar, sofrendo queda de cabelos, crescimento de pêlos no rosto e no corpo e acne. Além disso, ocorrem alterações das feições, redução do tecido mamário e aumento do clitóris.

A hipertrofia muscular está causando polêmica pela metamorfose do visual de Joana Prado, a Feiticeira. Ao combinar malhação pesada e dieta de proteínas, aminoácidos e minerais, ela trocou as curvas que deixavam os homens hipnotizados por coxas, bíceps e pescoço de halterofilista. Em menos de seis meses, Joana reduziu de 12% para 8% seu índice de gordura corporal, que está próximo ao de fisiculturistas (entre 4% e 6%), e agora tem uma voz mais grossa. Mas parece que o resultado não lhe agradou. Num comentário no programa “Casa dos artistas 2”, do SBT, ela disse que se sentia parecida com um “bujão de gás”.

Para especialistas, a mudança tão rápida e radical no corpo de Joana deixa margem para polêmica. Qual a explicação? Há quem levante como hipótese provável o uso de esteróides anabolizantes, ainda que seu fisiculturista Renato Ventura negue.

Apesar do alerta de médicos e professores de educação física, o consumo de esteróides não é raro entre atletas e alunos de academias. Alguns dos efeitos nocivos destas substâncias são doenças cardíacas, do fígado, dos rins e até câncer.

– Nunca usei anabolizantes e levei pelo menos dois anos para esculpir meu corpo. Ainda mantenho a disciplina alimentar, sem exageros, e vou à academia pelo menos duas vezes por semana – conta a modelo e policial Marinara Costa.

Hoje ela diz que “já não pega tão pesado” e deixou de fazer dieta hipercalórica. Há dois anos, chegava a comer 24 claras de ovos por dia. Na sua bolsa, levava a marmita, uma pequena balança e um despertador, que tocava a cada três horas, para lembrá-la que era hora de comer. Fã de Madonna, Marinara sempre teve como meta o biotipo da cantora. Agora, ela desistiu da musculação pesada.

– Minha genética favoreceu o aumento de massa muscular. Gosto do corpo mais musculoso, sem deixá-lo masculino.

Apesar de ser vendido com retenção de receita, professores de academias dizem que não é raro achar alunos usuários dessas drogas. O fisioterapeuta Marcelo Tude, diz que as pessoas usam anabolizantes, mesmo com riscos:

– Já vi mulher fazendo depilação no rosto para esconder um dos efeitos, o crescimento de pêlos. Outra conseqüência é o engrossamento da voz, que é irreversível. Não é preciso usar drogas para ter um corpo mais definido.

Pílula não elimina os efeitos da testosterona

Para se ter um corpo bem malhado e musculoso não é preciso recorrer à testosterona. A endocrinologista Silvana Lins Maia Gomes, de 32 anos, 1,75m e 68 quilos (quase tudo sob a forma de músculos), é um exemplo de corpo hipertrofiado sem esteróides masculinos. A médica malha seis vezes por semana.

– Sou dependente de exercícios. Por mais que a mulher faça musculação pesada e dieta rica em suplementos protéicos, há um limite. Ela nunca terá um corpo masculino, a não ser com o uso de anabolizantes – diz Silvana, responsável pela clínica de estética da academia Ibeas.

A jornalista Bianca Ladeira, 1,63m e 58 quilos, gosta do biotipo hipertrofiado, mas nem pensa em usar testosterona. Para ter o corpo malhado, faz uma hora de ginástica localizada e spinning, diariamente, na Estação do Corpo:

– Uso caneleira de até 16 quilos. Meu corpo é musculoso, mas com curvas.

Estrogênio da pílula não diminui ação da testosterona

Além de esteróides, o excesso de suplementos protéicos, ingeridos por alguns praticantes de musculação, também causam danos à saúde, quando usados sem critérios.

– É importante tomar cuidado com a fórmula desses suplementos porque há relatos de que alguns contêm esteróides anabolizantes. Um dos primeiros sinais do uso de testosterona é a acne. Os esteróides, por exemplo, aumentam a viscosidade do sangue e o risco de infarto e trombose. Outra conseqüência é o aumento da resistência à insulina. Em doses altas, essas drogas viciam – diz o endocrinologista Amélio Godoy Matos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Uma dúvida comum é saber se tomar pílula anticoncepcional ajuda a reverter os efeitos dos anabolizantes.

– Tomar pílula não resolve porque o estrogênio da pílula não diminui a ação dos anabolizantes – diz Matos.

O médico José Kawazoe Lazzoli, da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, diz que a maioria dos efeitos nocivos dos anabolizantes é reversível. Mas alguns, como o engrossamento da voz, são permanentes.

– As mulheres podem obter massa muscular muito boa associando treinamento adequado e boa nutrição. É um risco enorme tomar anabolizantes com objetivos estéticos. Também suplementos nutricionais merecem atenção. Algumas fórmulas levam estimulantes, como a efedrina – diz Lazzoli.

Já o professor de educação física Marcos Antônio Rodrigues da Silva, comenta que ainda é minoria nas academias as mulheres que buscam um corpo muito hipertrofiado, quase masculino.

– No treinamento de hipertrofia muscular, é essencial levar em conta vários fatores, como a genética de cada um. Ninguém ganha massa muscular da noite para o dia. É um trabalho a longo prazo, que inclui orientação nutricional. E não é preciso passar horas na academia – garante.

A professora de educação física e triatleta Monika Lucena, adverte que, para ter um corpo com musculatura bem definida, a mulher deve ter antes de tudo predisposição genética. Aquelas que têm tendência à flacidez podem malhar o dia inteiro que jamais terão o corpo de fisiculturista.

– Não basta só fazer ginástica como uma louca. É preciso cuidar da dieta, evitando o excesso de sal para impedir a retenção de líquido tão comum nas musculaturas hipertrofiadas, que dá aquela aparência de que a pessoa está inchada. E cortar o açúcar para evitar acúmulo de gordura – diz Monika.

Outra medida é ter vida regrada, com boas noites de sono, sem bebidas alcoólicas. Monika acrescenta que é essencial fazer os exercícios corretos, de muita carga e poucas repetições, com freqüência e acompanhamento constantes, além de exercícios aeróbios:

– As bombas, além de acabar com a pele, dão à mulher a aparência de um ser inchado.

A psicanalista Dulce da Silveira diz que a mulher que busca uma musculatura masculina revela problemas de aceitação de seu corpo, preocupando-se demais com a imagem que os outros farão dela:

– Essa mulher cria um ideal de um corpo mais forte e mais bonito e tenta parar o tempo, para ficar sempre jovem. O objetivo é conquistar olhares e admiração para compensar a baixa auto-estima. Isso representa instantes de prazer.

Já a mulher viciada em ginástica tenta, segundo Dulce, competir com o sexo masculino, tentando demonstrar que tem o poder e a força de um homem. Mas essa mania pode virar uma doença.

– Essa dependência da malhação pode resultar em doença, conhecida como vigorexia ou overtraining. Quando se perde mais tempo malhando do que interagindo socialmente, trata-se de dependência psicológica com indicações de tratamento terapêutico – afirma Dulce.

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