No próximo dia 21, às 16 horas, o médico laparoscopista José Travassos irá realizar, no Hospital Santa Rita (Rua Cubatão, 1.190, na Vila Mariana, tel. 5908-6000), em São Paulo, uma cirurgia inédita de prostatectomia radical laparoscópica, com o auxílio de um robô, o AESOP 3000 System, produzido por uma empresa americana.

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A cirurgia, com três horas de duração, será feita em um paciente de 50 anos e transmitida simultaneamente para o anfiteatro do Hotel Sofitel (Rua Senna Madureira, 1355, Vila Mariana). No dia 23 (domingo), às 9h, o procedimento será repetido em outro paciente. Em dezembro de 2000, o cirurgião Ivo Nesralla, do Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, fez a primeira operação de revascularização do miocárdio, na América Latina, com o uso de um robô.

Produzidos nos Estados Unidos desde 1993, onde são utilizados em mais de 480 centros médicos para intervenções de laparoscopias urológicas, em cirurgias cardíacas, de obesidade mórbida (redução do estômago) e em diversas áreas da gastroenterologia, os robôs chegam agora às salas de cirurgia brasileiras.

Entre outros benefícios, o sistema reduz em até 40% o tempo de internação e torna as cirurgias mais seguras, mais precisas, menos invasivas e de menor custo para o paciente e para o sistema de saúde. Os sistemas robóticos funcionam como uma espécie de “terceira mão” do cirurgião e substituem, com vantagens, o cirurgião-auxiliar, que antes precisava posicionar manualmente uma câmera, durante todo o processo cirúrgico, para reproduzir as imagens internas do local operado.

De acordo com o médico anestesiologista Carlos Lichtenberger, diretor do Hospital Santa Rita, “o impacto da cirurgia robótica será tão grande na medicina quanto foram os sistemas de projeto e manufatura baseados em computador, na indústria mecânica”. Segundo ele, esses sistemas trarão um up grade às cirurgias vídeo-laparoscópicas porque fornecem movimentos precisos e estáveis e podem ser guiados por equipamentos de imagens médicas não-invasivas, como tomógrafos e ultrassonógrafos, permitindo a navegação e localização espacial em alvos cirúrgicos complexos e inacessíveis (dentro do cérebro, por exemplo), com precisão inferior a um milímetro”.

Auxiliar obediente: o que o médico pede, o robô faz

Os comandos para a movimentação da câmera que faz as imagens da cirurgia são controlados pela voz do cirurgião ? que é previamente gravada num memorycard para que seja reconhecida. O robô aproxima a imagem ou muda o enfoque do quadro apenas com as ordens sonoras. O que ele pede, o robô realiza. O sistema que faz a interface para o reconhecimento de voz também pode controlar a iluminação da sala de cirurgia, o ar-condicionado e até mesmo uma linha telefônica para comunicação externa.

De acordo com Travassos, nas cirurgias vídeo-laparoscópicas a utilização adequada da câmera responde por 30% do sucesso da operação. “Quanto mais confiável for o campo visual, melhor o resultado. A vantagem do sistema é que ele oferece uma imagem estática, sem qualquer tipo de tremor, requisito fundamental, por exemplo, para fazer a perfeita dissecção do feixe vásculo-nervoso, responsável pela ereção dos pacientes no pós-operatório”, explica.

Atualmente existem seis robôs operando em instituições de saúde de todo o país. Dois deles estão sendo utilizados desde o ano passado, em São Paulo, na UNIFESP/EPM e no INCOR, para pesquisas. Mas somente no último dia 29 de janeiro deste ano o Ministério da Saúde aprovou e liberou o uso do sistema para cirurgias. Um entrave para a disseminação e popularização da nova tecnologia é o preço: o AESOP 3000 System custa US$ 135 mil, valor inacessível, por exemplo, para o SUS (Sistema Único de Saúde).

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