Leite materno e os riscos da suplementação precoce

A amamentação exclusiva até o sexto mês protege o bebê de doenças e fornece alimento na quantidade e qualidade certas para saciar a fome, a par de propiciar o seu desenvolvimento físico e intelectual. Ela é coroada pelo amor – a maior virtude doada pela mãe, que faz com que seu filho adquira e seja confiante durante sua vida, acreditando em si próprio, encorajando-o a lutar com paz e tranqüilidade contra dissabores do cotidiano.

Adultos que na infância foram alimentados exclusivamente com leite humano têm risco de 82% menor em contrair doenças e diarréias, graças às propriedades protetoras do leite materno e menor exposição a agentes infectantes; risco de 40% menor em ter Doença Celíaca (síndrome da má absorção), enteropatia decorrente da sensibilidade ao glúten. O probiótico (substância do leite humano e que combate infecções) presente no leite humano reduz a enterocolite necrotizante na vida adulta. Reduz, ainda, o risco de ter diabetes insulino dependente (por ataque biológico em células do pâncreas), linfomas e doença de Crohn. O leite materno previne, também, doenças crônicas de fígado e ataques agressivos.

Suplementos, como leite de vaca não diluído, trazem o risco de déficit de água causando hiper-osmolariade, o que pode levar, em casos graves, a letargia, convulsões e danos neurológicos residuais. Outras implicações são os casos de desenvolvimento da obesidade, hipertensão e aterosclerose a longo prazo. O impacto negativo na saúde pode acontecer por dois mecanismos: um é o efeito cumulativo de alterações que, embora iniciado precocemente na vida, resulte em morbidade anos depois; o outro é a criação de hábitos alimentares que conduzem a práticas dietéticas indesejáveis, contribuindo para problemas de saúde.

Por exemplo, o gosto de um adulto por alimentos excessivamente salgados pode ser resultado de experiências precoces na vida, portanto constituída de prática aprendida, enquanto o efeito cumulativo de sódio, por muitos anos, leva ao desenvolvimento da hipertensão. O leite materno possui pouco sódio.

A aterosclerose e a doença cardíaca isquêmica são um dos maiores problemas de saúde nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Podem estar vinculadas a hábitos alimentares na infância (dietas ricas em energia, gorduras saturadas, colesterol e alto consumo de proteínas). Nesses casos, manifestam-se 30 a 40 anos depois.

Alergia alimentar pode ser totalmente prevenida, evitando a ingestão de leite de vaca nos primeiros meses de vida. A alergia ao leite de vaca (reação a proteína estranha) se manifesta por sintomas gastrointestinais, dermatológicoseczemas ou respiratórios de gravidade variável, podendo chegar até a choque anafilático. A amamentação prolongada tem papel protetor na alergia a outros alimentos.

A obesidade é doença crônica que associa tendência genética a hábitos inadequados, como é o caso de abuso à mesa na hora da refeição e falta de atividade física. Há estreita relação entre práticas alimentares e excesso de peso durante o período da infância e da adolescência, culminando em obesidade quando adulto. Superalimentação é um dos maiores riscos associados à mamadeira e à suplementação precoce, a par da aquisição de hábitos alimentares indesejáveis. Bebês amamentados regulam a ingestão segundo as suas necessidades. A obesidade é problema de saúde pública. Pode causar diabetes, doenças cardiovasculares, câncer de mama, infertilidade, dores na coluna, além de prejuízos psicológicos.

Selma Campestrini e Vera Lúcia Moreira Cabral

são enfermeiras e professoras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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