Jovens brasileiros estão mais altos e obesos

Somos, cada vez mais, um País de peso. Para o mal e para o bem. Além dos quase 40 milhões de adultos gordos, a balança já registra excessos em cerca de 6 milhões de adolescentes. Há 30 anos, o problema atingia 3,9% da população masculina e 7,5% da feminina, na faixa etária entre 10 e 19 anos, proporção que subiu, respectivamente, para 18% e 15,4%. Por outro lado, quilos muito bem-vindos reduziram a desnutrição infantil nas últimas três décadas. O indicador caiu de 16,6% para 4,6%, entre os menores de 5 anos de idade. Com exceção da região Norte, a prevalência constatada é baixa, segundo parâmetro estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Assim como há um ano e meio, ao revelar dados sobre o perfil nutricional do brasileiro acima dos 20 anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) voltou a concluir: somos mais gordos do que desnutridos. A revelação faz parte da publicação Antropometria e Análise do Estado Nutricional de Crianças e Adolescentes no Brasil, lançada ontem, que traz uma proporção de 3,7% de adolescentes desnutridos ante 16,7% que sofrem com o excesso de peso.

"Estamos hoje numa situação de transição do padrão alimentar. Há 30 anos, a desnutrição era um problema grave, mas hoje esse aspecto não é o mais grave, e sim, o excesso de peso. Temos um problema nutricional no País, mas não é por falta de alimentos, e sim, por má alimentação. Algo precisa ser feito já", alertou o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.

O estudo, realizado ao longo de um ano, faz parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003, alvo de polêmica em dezembro de 2004. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou suas conclusões ao declarar que "fome não é uma coisa medida em pesquisa".

Perguntado se não teme um novo mal-estar dentro do governo, Pereira Nunes declarou: "Estamos absolutamente tranqüilos. Temos certeza de que a leitura desses indicadores foi adequada. Estamos diante de um fato novo e temos de aprender com ele". E ressaltou que o estabelecimento de uma nova prioridade não quer dizer que tenhamos de deixar de lado as antigas. O principal programa do governo Lula, o Fome Zero, ainda trata a desnutrição como mal maior.

Em 1974-1975, entre os 20% mais pobres da população, 30,8% das crianças com menos de 5 anos sofriam com deficiência de peso. Na pesquisa mais recente, com dados de 2002-2003, a proporção baixou para 8,7%. Para o chefe do Departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Augusto Monteiro, consultor contratado pelo Ministério da Saúde para acompanhar a pesquisa do IBGE, a queda da desnutrição no País não pode ser explicada exclusivamente por um maior acesso aos alimentos. "Melhorias no saneamento básico, vacinação, pré-natal, escolaridade das mães… Não é só uma questão de alimentação", diz.

O levantamento mostra ainda que o brasileiro vem alcançando os padrões desejados de altura, embora ainda existam déficits, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do País. Nos últimos 30 anos, os ganhos com altura foram significativos, chegando até 10 centímetros na faixa dos 14 anos.

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