Infecção hospitalar ameaça 80% dos pacientes graves

A infecção hospitalar (IH) se constitui em qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada do paciente em um hospital ou ainda após a sua alta, quando a doença estiver relacionada diretamente com a internação ou procedimento. Ela pode se manifestar entre 48 e 72 horas após o internamento do paciente. Antes disso, a infecção foi desenvolvida fora do hospital.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima que, se não prevenida, a infecção hospitalar pode atingir até 80% dos pacientes em estado grave de uma unidade de saúde. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, dados de maio deste ano mostram que somente 112 dos 533 hospitais existentes no Paraná têm um programa atuante de controle de contaminação.

Pesquisas do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba demonstram que a taxa geral de infecção hospitalar na cidade foi de 2,5% em 2002. No ano anterior atingiu 3,18%. O centro monitora mensalmente 34 estabelecimentos de saúde, entre hospitais públicos, privados e filantrópicos, entre outros.

Muitas instituições usam como parâmetro máximo um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde em 1998. No geral, a taxa de IH no Brasil foi de 13,09%. Na região Sul, o índice foi menor: 9%. As estatísticas de infecção variam conforme a atividade do hospital e o setor. Uma maternidade, por exemplo, não terá o mesmo nível de IH do que um setor de transplantados de um hospital geral.

Para a médica do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital de Clínicas (HC), Célia Burgardt, a doença é resultado das complicações do procedimento médico. “Quanto mais avançada e invasiva for a medicina, há mais chances de os pacientes desenvolverem infecção. A agressividade de muitos exames é propícia para isso”, afirma.

Os procedimentos de risco são cirurgias, sondas vesicais, catéteres venosos e cânulas. Os pacientes com mais possibilidades de contaminação são aqueles com idade avançada, bebês prematuros, pessoas internadas em terapia intensiva ou que possuem diabetes e câncer. Célia explica que não são todos os tipos de infecção que podem ser eliminados com ações de prevenção. “Quando a defesa do corpo do paciente está baixa, as próprias bactérias dele desenvolvem um quadro de infecção, por mais que se tomem todos os cuidados”, explica.

A enfermeira do SCIH do Hospital Nossa Senhora do Pilar, Adriana Zanuthi, comenta que alguns sinais dos pacientes indicam uma possível contaminação: “Se o paciente está bem e começa a piorar, se ele apresenta quadro de febre ou passa a receber mais antibióticos receitados pelo médico, há uma grande chance de a infecção estar instalada. Colhemos material e mandamos para o laboratório, que vai indicar se a contaminação realmente ocorreu”, esclarece. “Com os exames, é possível descobrir exatamente o dia da infecção”.

Hospitais devem ter comissão de controle

A Lei federal n.º 6.431/97 obriga todos os hospitais brasileiros a constituírem a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, tendo como objetivo a redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções. Pouco tempo depois, o Ministério da Saúde editou a portaria n.º 2.616/98, com as diretrizes e normas para a execução das ações. Cada grupo deve aplicar um programa de prevenção dentro do hospital.

Célia explica que a primeira forma de prevenção do contágio é lavar as mãos com uma técnica para a eliminação dos germes. “Lavar as mãos é tão básico, mas tem pouca adesão. Tem de lavar a palma, o dorso, entre os dedos. Orientamos para que as unhas sejam curtas e preferencialmente não tenham esmalte, pois fica fácil identificar a sujeira. Todo mundo deve fazer isso. É um método simples, barato e muito eficaz”, opina. A enfermeira Adriana, do Nossa Senhora do Pilar, também defende o uso de álcool depois de lavar as mãos com sabão. “O álcool 70% ajuda a desidratar e a estourar a bactéria. A utilização da substância deve ser nos moldes da técnica para a lavagem das mãos”, observa.

A atenção também deve estar voltada para a higienização do local. “A transmissão se dá por meio da superfície da mão e de objetos”, conta Célia. Tudo no hospital é limpo e mantido seco, pois a umidade é um ambiente favorável para a proliferação de bactérias. “Por isso nós não usamos sabonete em barra, que deixa água na saboneteira. No hospital, o sabonete é líquido”, explica.

Diferente

A limpeza hospitalar é diferente da domiciliar, segundo a médica do HC, inclusive pensando na possibilidade de contaminação do funcionário. “A limpeza é feita somente com água e sabão. Os produtos químicos são usados de forma direcionada, como em um local onde caiu sangue, por exemplo”, comenta. Além disso, os materiais e equipamentos devem passar por esterilização. No Hospital de Clínicas também acontece o controle semanal da água (nos quesitos ph e cloro) e o gerenciamento do lixo hospitalar.

Cuidados se estendem aos visitantes

As pessoas que visitam pacientes em estabelecimentos médicos precisam seguir algumas orientações para evitar a infecção hospitalar. A médica Célia, do Hospital de Clínicas, recomenda que a população não leve uma grande quantidade de alimentos para o quarto do hospital, somente o necessário para um dia.

Os visitantes também devem evitar ir ao hospital quando estiverem doentes, pois podem levar bactérias e vírus para um ambiente esterilizado. “Orientamos não levar crianças porque nunca ficam quietas, podendo encostar a mão no chão e depois no paciente”, explica. Também não é recomendável presentear os internados com flores.

A enfermeira Adriana, do Hospital Nossa Senhora do Pilar, lembra que os visitantes também precisam sempre lavar as mãos para entrar em contato com o doente: “As pessoas podem trazer bactérias, que é a coisa mais comum”. Ela aconselha o visitante a não sentar na cama do paciente. A posição do debilitado na maca deve ser alternada sempre, para eliminar a possibilidade de se formarem feridas, uma porta de entrada considerável para a contaminação.

Antibióticos

A principal ajuda que a população em geral pode realizar para diminuir os índices de infecção hospitalar é não usar remédios antibióticos sem necessidade. O certo é tomar a dosagem rigorosamente nos horários determinados pelo médico. “Se não cumpre essas regras, as bactérias tornam-se mais resistentes. A cada geração delas, mais resistência existe. Quando o paciente é internado e desenvolve a infecção, nossa possibilidade de tratamento diminuiu bastante”, afirma Célia. Ela conta que as pessoas deixam de tomar ou respeitar os horários na medida em que as melhoras começam a aparecer.

Além disso, todos devem sempre preservar a saúde no dia-a-dia. A ingestão de alimentos saudáveis (como verduras, legumes e frutas) e a prática de exercícios físicos deixam o organismo mais forte e resistente contra as doenças. (JC)

Infecção Hospitalar (IH) em Curitiba:

* Taxa geral em 2002: 2,5%
* Taxa geral em 2001: 3,18%
* Índice de IH em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Adulto em 2002: 7,85%
* Índice de IH em UTI de Adulto em 2001: 10,28%
* IH em UTI pediátrica em 2002: 12%
* IH em UTI pediátrica em 2001: 16,45%
* IH em UTI neonatal em 2002: 15,78%
* IH em UTI neonatal em 2001: 14,31%
* Os índices estão dentro dos parâmetros internacionais.
* O monitoramento dos hospitais previne o surgimento de qualquer tipo de surto de infecção nos serviços prestados pelo estabelecimento.

Fonte

: Comissão de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde

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