Hipertensão torna-se mais frequente em crianças e adolescentes

Brasília – Além de doenças como diabetes do tipo 2, cardiopatia, problemas pulmonares e até mesmo câncer de estômago e intestino, a obesidade infantil causa a hipertensão arterial, uma moléstia considerada típica dos idosos velhas. Segundo dados do Instituto da Criança (IC) do Hospital de Clínicas (HC) de São Paulo, uma em cada seis crianças de até 10 anos está com peso pelo menos 20% acima do ideal. Nos anos 80, apenas 3% eram obesas. Hoje, seis de cada dez brasileiros entre 6 e 14 anos, que vivem nas grandes cidades, apresentam sintomas de stress.

Para os pediatras, a hipertensão arterial infantil é assunto de preocupação razoavelmente recente (duas ou três gerações). Até então a literatura médica não previa para crianças problemas como colesterol alto, hipertensão e tendinites causadas por esforço repetitivo. Doenças de criança sempre foram sarampo, cataporas, caxumba e rubéola. Devido ao surgimento precoce dessa patologia, a medicina continua apenas engatinhando na área e os especialistas ainda procuram por métodos de diagnósticos e formas de tratamento.

De acordo com a pediatra Vera koch, chefe da Unidade de Nefrologia Pediátrica do IC, até cinco anos atrás as crianças chegavam ao seu consultório em estado muito grave, pois os sintomas provocados pela hipertensão infantil se confundiam com outros distúrbios e não eram percebidos pelos pais. Por exemplo, fazer xixi na cama pode ser sinal de problema psicológico e não apenas de pressão alta.

“Ainda existem muitas dificuldades para detectar se a pressão arterial da criança está alta ou não. Muitos hospitais não têm equipamentos especializados, devido ao alto custo. Para medir a pressão em recém-nascidos é necessário ter um equipamento chamado de Manguitos. Até os 3 anos de idade, um equipamento de Osilometria, que mede automaticamente a pressão arterial independente da escuta dos médicos. E só após essa idade é que se utilizará a Ausculta, método semelhante dos adultos”, explica a pediatra. Todos esses empecilhos dificultam o trabalho dos médicos em obter dados concretos de quantas crianças brasileiras sofrem dessa enfermidade, além de prejudicar o acesso da população aos hospitais.

É por meio da definição de pressão arterial que entendemos a hipertensão ou pressão alta. A pressão arterial é a força que o fluxo sanguíneo exerce nas artérias. Por meio de sua mensuração, dois valores são registrados: o maior, quando o coração se contrai bombeando o sangue (pressão sistólica), e o inferior, quando o coração relaxa entre duas batidas cardíacas (pressão diastólica). A hipertensão ocorre quando a pressão sistólica em repouso é superior a 140mmHg ou quando a pressão diastólica em repouso é superior a 90mmHg ou ambos.

Muitos casos de hipertensão na infância são chamados “primários”, isto é, sem causa bem definida associada ao histórico familiar ou estão relacionados com a obesidade. Em adolescentes hipertensos, encontram-se taxas de até 95% de hipertensão primária. As hipertensões secundárias, menos comuns, são decorrentes de alterações renais ou renovasculares, coartação de aortas (doença cardíaca que provoca tensão arterial elevada), doenças endocrinológicas, tumores, drogas, toxinas e doenças neurológicas.

Segundo Vera Koch, a criança hipertensa geralmente é assintomática, o que reforça a importância de medidas rotineiras da pressão arterial durante as avaliações médicas. Em alguns casos, porém, sintomas podem estar presentes. Cefaléia (dor de cabeça), principalmente na região da nuca e que ocorre ao acordar, pode ser manifestação do distúbio. Há possibilidade de ocorrência ocasional de hipertensão em situações de stress, tais como: dor abdominal aguda, ferimentos, fraturas, extração dentária. Nestes casos recomenda-se observação e novas medidas de pressão arterial, após a eliminação do fator desencadeante.

“Quando uma criança chega ao hospital com indícios de hipertensão, tem-se que avaliar e investigar os sintomas para confirmar o caso e por meio dos resultados instituir a medicação correta”, diz a pediatra. As estratégias de manejo podem ser divididas em duas categorias: farmacológicas e não farmacológicas. O plano terapêutico apropriado dependerá de um julgamento clínico baseado na gravidade, causa, duração da hipertensão e presença de valores de risco tais como hipercolesterolemia, diabetes, história familiar positiva de feocromocitoma e doenças renais ou de complicações associadas à hipertensão.

A terapia não farmacológica baseia-se em dois componentes principais: controle de peso, com modificação da dieta, e exercícios. Como a obesidade é um dos fatores epidemiológicos mais importantes e bem estabelecidos da hipertensão arterial em adultos e em crianças, em uma criança obesa sem história de sinais e sintomas relacionados à forma secundária de hipertensão e com achados normais de exame físico, o maior foco da terapia deve ser um programa individualizado de controle de peso. O objetivo da intervenção dietética é diminuir o peso, o sal, a gordura e os carboidratos. A redução e manutenção do peso ideal é freqüentemente muito difícil. O auxílio de uma nutróloga ou nutricionista, respeitando as preferências do paciente, pode ser útil.

Existem alguns casos de hipertensão que não têm cura, ou seja, há uma grande tendência de que a criança hipertensa seja um adulto hipertenso. Por exemplo, nos Estado Unidos existem estatísticas de adolescentes com hipertensão em dois níveis. Devido o excesso de peso, a pressão fica elevada e o adolescente fica sob supervisão da equipe até que ela volta ao normal.

Mas isso não significa que a sua pressão esteja controlada. Para evitar o ganho de peso, será necessário praticar atividades físicas, manter uma alimentação saudável e medir a pressão constantemente. Outro grupo de risco são as crianças, que desde o exame pré-natal, tinham algum problema nos rins. “Normalmente a criança que tem infecção urinária constante pode ter hipertensão arterial”, informa Vera Koch.

A pressão alta tem um forte componente genético, mas que só é deflagrado em idades precoces por influência do ambiente. “A tristeza da pressão alta é que no início ela não apresenta sintomas. Em geral, eles só aparecem quando algum órgão já está desequilibrado. Os bebês podem convulsionar, ter insuficiência cardíaca, perda de peso, além de ficarem irritados e chorões. Já a criança mais velha tem muitas dores de cabeça e ficam mais irritadas, chegando, muitas vezes, a terem derrames”, coma a pediatra.

Muitos pediatras tratam da hipertensão infantil como um fenômeno característico da vida moderna, dizem que o sedentarismo, as comidas gordurosas e o stress estão invertendo o relógio biológico das crianças. Vera Koch, tadavia, não concorda com essa afirmação. Para ela ainda não se tem estudos que comprovem que a vida moderna gera hipertensos. ” No passado existiam dificuldades que hoje não temos mais, a comunicação era precária e quase não existiam tratamentos para essa patologia, e nem por isso deixavam de existir pessoas hipertensas. Hoje, com o fácil acesso da comunicação e com os avanços da medicina é muito mais fácil o tratamento de certas doenças. Se pararmos para pensar, no futuro existiram mais problemas, mais avanços tecnológicos e mesmo assim o número de hipertensos irá aumentar”, afirma a pediatra.

“É preciso chamar a atenção dos pais para a prevenção da enfermidade, pois as conseqüências no futuros costumam ser devastadoras. Pode ocorrer o estreitamento ou rompimento das artérias, dificultando a circulação do sangue para todo o organismo. O resultado pode gerar combinações graves e até mesmo fatais, como infarto do miocárdio, derrame cerebral e insuficiência renal”, diz Vera Koch.

Visando prevenir e combater a hipertensão infantil, o Instituto da Criança mede gratuitamente a pressão de crianças e adolescentes nas creches do Hospital de Clínicas. Não só entre os profissionais mas também várias escolas municipais e estaduais e alguns centros universitários já participam dessa campanha. Maiores informações sobre a iniciativa podem ser obtidas no setor de Relações Públicas do IC pelo telefone (11) 3069.8531.

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