Hipertensão é um gatilho para o derrame

Segundo estimativas do Ministério da Saúde, o acidente vascular cerebral (AVC) é a principal causa de morte em todas as regiões do País.

Outro dado preocupante é que dos pacientes que sobrevivem cerca de 50% ficam com algum grau de comprometimento ou sequela.

“Por isso é tão importante a adesão ao tratamento e a medição constante da pressão arterial”, reforça o cardiologista Fernando Nobre, presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).

Apesar da significativa redução no número de mortos por derrame desde a década de 1960, a doença permanece entre as primeiras causas mais frequentes de morte nos Estados Unidos, atrás apenas de doenças cardíacas e câncer.

Uma pesquisa americana indica que 54% dos derrames ocorrem fora de hospitais. Com efeito, a administração de medicação específica pode beneficiar pacientes com derrame isquêmico agudo, entretanto, o tratamento deve começar em até três horas desde o início dos sintomas.

Para o derrame hemorrágico, é crucial a cirurgia imediata que previne a possibilidade de um novo sangramento, o que resultaria em sérios danos ou morte em 40% a 60% dos casos.

Relação médico-paciente

A adesão ao tratamento quando descoberta a doença é um dos grandes desafios da medicina.

Pesquisa realizada pelo nefrologista e conselheiro da SBH Décio Mion demonstra que o problema vem desde a consulta médica até a mudança no estilo de vida do paciente.

Dos entrevistados, 76% afirmaram estar insatisfeito com o atendimento dos médicos e procuram outro especialista, 30% afirmaram ter toda atenção do especialista e 37% estão satisfeitos com o atendimento.

“A relação entre médico e paciente ainda é deficiente e parte dos hipertensos se sente isolado por esse distanciamento e acabam desistindo do tratamento”, afirma o médico.

Quanto à adesão ao tratamento, 79% dos pacientes que participaram do levantamento realizado pelo especialista disseram que gostariam de ter mais relação com o médico. Outros 84% espera por mais informações da doença e 91% gostariam que o médico entrasse em contato pós consulta.

O complemento do estudo mostrou que 89% dos pacientes consideram os medicamentos utilizados no tratamento caros e 54% não se sentem bem com os remédios prescritos pelos médicos devido aos eventuais efeitos colaterais.

Fácil diagnóstico

“O conhecimento para controlar a hipertensão arterial existe, mas os pacientes não seguem a orientação médica”, lamenta o especialista. Nos Estados Unidos, o percentual de doentes com pressão arterial abaixo de 140 mmHg por 90 mmHg, ou seja, em níveis controlados, é de 31% sobre o total de doentes. No Brasil, calcula-se que esse percentual seja inferior a 10%.

A pressão alta é de fácil diagnostico, pode ser tratada e o paciente tem a chance de seguir com a vida tranquilamente incluindo novos hábitos em seu cotidiano. No entanto, por ser silenciosa e não apresentar sintomas imediatamente, ela é um dos principais fatores de riscos de doenças que atinge coração, rins e cérebro.

Segundo o Ministério da Saúde, das 900 mil fatalidades registradas no Brasil, anualmente, quase 30% decorrem de alterações no sistema cardiovascular provocadas pela elevação crônica da pressão arterial.

Mais de 80% dos brasileiros adultos medem a pressão arterial regularmente, como comprova uma pesquisa de 2006, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

“O problema é a negligência nas demais etapas do processo, do diagnóstico, orientação do tratamento e uso efetivo dos medicamentos. E ela ocorre porque a doença não causa dor”, completa Décio Mion.

Novo estilo de vida

Há dois tipos de tratamento para hipertensão: com e sem medicamentos. O uso ou não de remédios vai depender do estágio da doença e do risco cardiovascular do paciente.

,Uma pessoa que acabou de ser diagnosticada pode conseguir reverter à alta da pressão adotando um estilo de vida saudável, que inclua redução do sal na alimentação, maior consumo de vegetais e pouco ou nada de álcool. Esses novos hábitos, aliados à prática regular de exercícios físicos e a perda de peso ajudou no combate ao distúrbio.

“Essas mudanças de hábitos servem tanto para a prevenção da doença como para o seu tratamento”, o nefrologista Décio Mion. Reduzir o consumo de sal significa consumir, no máximo, seis gramas diárias, o que equivalente a quatro colheres rasas das de café. O brasileiro consome, em média, 12 a 14 gramas de sal por dia.

O controle do peso e a realização de atividades físicas regulares durante pelo menos 30 minutos, três vezes por semana, contribuem não só para o controle da hipertensão, mas também para a queda da insulinemia (excesso de insulina no sangue), além de reduzir a sensibilidade ao sódio e diminuir as atividades do sistema nervoso simpático.

O fumo é o único fator de risco totalmente evitável de doença e morte cardiovasculares. Evitar esse hábito, que em 90% dos casos ocorre na adolescência, é um dos maiores desafios em razão da dependência química causada pela nicotina.

No entanto, programas agressivos de controle ao tabagismo resultam em redução do consumo individual e se associam à diminuição de mortes cardiovasculares em curto prazo.

AVC: agilidade no atendimento

De acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde, mais de 5 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao AVC. Os dados indicam que aproximadamente um entre quatro homens e uma entre cinco mulheres poderão sofrer um derrame até os 85 anos de idade.

Entretanto, o rápido reconhecimento e tratamento dos casos de AVC podem aumentar as chances de sobrevivência e diminuir as sequelas nesses pacientes. “Boa parte das mortes relacionadas ao AVC poderia ser evitada se houvesse uma melhor divulgação dos critérios de tratamento exigidos nos casos de emergências médicas”, afirma a neurologista Sheila Martins, representante da Organização Mundial de AVC (World Stroke Organization). Dentro das recomendações internacionais, os pacientes podem ser tratados até 4,5 horas depois do início dos sintomas.

Atualmente cerca de 85% dos casos de AVC são de origem isquêmica (ocasionados pelo entupimento do vaso sanguíneo por meio de um coágulo) e o trombolítico se utilizado dentro dessa janela terapêutica consegue dissolver o coágulo e reduz em 30%, no mínimo, as sequelas causadas pela doença.

“Reconhecer e tratar rapidamente um caso de AVC é o desafio, pois uma vez que o tecido cerebral tenha sido danificado, não existe tratamento eficaz para sua regeneração”, afirma a neurologista.

Para que o atendimento seja realizado de forma correta, torna-se necessária que a fase aguda seja considerada como situação de emergência e não de observação.

Lesões por hipertensão

No coração e vasos sanguíneos

* Dilatação do coração com insuficiência cardíaca
* Enrijecimento das paredes dos vasos
* Aumento do colesterol
* Infarto do miocárdio

No cérebro

* Esquecimentos
* Isquemias transitórias
* Acidente vascular cerebral (derrame)

Nos rins

* Insuficiência renal

Nos olhos

* Alteração nas artérias
* Comprometimento da visão

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