| Sem a eliminação adequada pelos rins, a concentração do ácido úrico aumenta no sangue, levando o paciente a sofrer as dores da gota. |
O presidente norte-americano Franklin Roosevelt sofria de gota. O pintor Michelangelo também. Outra personalidade acometida pela doença foi o físico e matemático Isaac Newton. Sem contar que a primeira descrição da doença foi feita por um médico inglês que sofria desse mal, em 1683. No entanto, a gota já era conhecida na Antiguidade, como a ?doença dos reis?, visto que a nobreza e as pessoas mais ricas daquela época pareciam mais vulneráveis à moléstia.
Na atualidade, as estimativas apontam que a gota, uma doença inflamatória muito dolorosa, pertencente à família das doenças reumáticas, incide sobre 18% da população. Destas, apenas 20% chegam a sofrer com as formações de cristais que se depositam em várias partes do corpo, devido ao excesso de ácido úrico no sangue. Segundo a reumatologista Evelin Goldernberg, em geral, a doença afeta primeiro as articulações dos membros inferiores e depois as dos membros superiores, ocasionando avermelhamento, calor e inchação local. As dores articulares são o principal sintoma dessa enfermidade cujas crises, em geral, se agravam à noite. ?Gota é uma doença implacável que não tem cura, mas tem controle e as crises dolorosas podem ser evitadas, desde que a pessoa não descuide do tratamento?, enfatiza a especialista.
Desequilíbrio
O fato de uma pessoa apresentar níveis elevados de ácido úrico no sangue não implica que a mesma seja portadora de gota. O ácido úrico é um produto natural do organismo formado a partir do metabolismo de uma substância chamada purina (que é um dos componentes do DNA). Evelin explica que uma parte dessa substância costuma ser eliminada pela urina, enquanto o restante circula no corpo sem causar qualquer tipo de problemas de saúde.
Segundo a médica, o desequilíbrio ocorre por dois motivos metabólicos. ?Ou o paciente é um hiperprodutor ou um hipoexcretor?, explica. No primeiro caso, o organismo está produzindo muito ácido úrico e, mesmo tendo uma excreção normal, não consegue eliminar o suficiente para deixar a taxa baixa. No segundo (que corresponde a 90% dos pacientes), apesar de a produção ser normal ou aumentada, os rins só conseguem eliminar pouco ácido úrico.
O reumatologista César Baaklini destacou que o tratamento da gota é diferenciado no momento da crise e no período entre as crises. Para tratar as crises são prescritos antiinflamatórios hormonais e não-hormonais (corticóides). O médico pode prescrever também bicarbonato de sódio e citrato de potássio, que têm poder de alcalinizar a urina para evitar cálculos (pedras) no rim. No tratamento entre as crises são prescritos medicamentos para manter o ácido úrico dentro dos limites normais, como o alopurinol, que inibe a produção do ácido, e os uricosúricos, que facilitam a eliminação do ácido úrico pelo rim.
Baaklini disse que o ideal é que o paciente tenha uma dieta equilibrada sem restrições. Alguns alimentos ricos em purinas são carnes de cabrito, carneiro, galeto, miúdos, alguns peixes como bacalhau, salmão, truta, leguminosas como feijão, entre outros.
A DOENÇA EVOLUI EM ESTÁGIOS
Em quaisquer dos estágios abaixo pode ser observada a formação de pedras de ácido úrico nos rins, levando a episódios extremamente dolorosos de cálculos renais.
1. Hiperuricemia assintomática – aumento do ácido úrico no sangue, mas sem maiores conseqüências para o organismo.
2. Artrite gotosa aguda – é a artrite dolorosa que ataca principalmente os membros inferiores, quase sempre atingindo uma única articulação (geralmente o dedão do pé).
3. Intervalo ou gota intercrítica – assemelha-se ao primeiro estágio, ocorrendo entre os ataques. Trata-se de um período sem sintomas em que parece que a doença desapareceu completamente.
4. Gota tofácea crônica ? é diferente dos episódios agudos, pois não tem período assintomático. Nela os cristais de ácido úrico formam depósitos em cartilagens, tendões, ao redor das juntas e no ouvido externo. Em raras circunstâncias eles se formam dentro dos rins, podendo interferir no funcionamento do órgão.