Falta de informação é o pior inimigo no combate à epilepsia

Sócrates, Júlio César, Buda, Maomé, Joana D’Arc, Napoleão, Dostoievski, Van Gogh e Machado de Assis, entre outras figuras expressivas da humanidade, tinham alguma coisa em comum: apresentavam crises epilépticas.

Por aí dá para se perceber que em todo o universo de pessoas acometidas pela epilepsia o convívio com esta condição é aceitável e, geralmente, seus portadores não têm maiores dificuldades no exercício de suas atividades e, conseqüentemente, buscam sempre melhor qualidade de vida.

Os especialistas afirmam que 75% das epilepsias curam-se, em média, em dois ou três anos, mas o medo e os mitos sobre a doença têm sido mais difíceis de combater.

Conforme o neurocirurgião Marlus Moro, do Hospital Nossa Senhora das Graças, a doença é uma condição clínica na qual ocorre descarga elétrica anormal e excessiva de um grupo de células cerebrais – os neurônios. Ele descreve que são múltiplas as apresentações de uma crise epiléptica.

“Isso se deve aos, também, inúmeros tipos da doença”, esclarece. Segundo o especialista, a mais conhecida e estigmatizada é a “generalizada”, na qual a pessoa afetada apresenta, na crise, perda absoluta da consciência e abalos musculares dos membros, secreção excessiva de saliva, mordedura da língua e dificuldade transitória de respiração.

Doença rejeitada

Os médicos, na maioria das suas declarações, são unânimes em afirmar que o principal inimigo do paciente ou para as famílias que convivem com os portadores da doença é a falta de informação.

De acordo com a neurologista Paula Batista de Almeida, muitos mitos que ainda rodeiam a doença têm origem na antiguidade, quando a epilepsia era encarada como uma “possessão demoníaca”, que fazia com que o doente perdesse a consciência e “espumasse” pela boca. “Essas fantasias vão passando de geração em geração, prejudicando o foco principal, que é combater a doença”, alega.

Para piorar a situação, os próprios pacientes tendem a encarar a doença como um tabu, cujas consequências podem ser, conforme a especialista, a discriminação no acesso ao emprego ou no local de trabalho.

“A epilepsia está entre as doenças que a sociedade mais rejeita”, garante a médica. A doença afeta, em média, 0,5 a 1% da população, o que corresponde a quase dois milhões de pessoas no Brasil. Pode ocorrer em qualquer raça, idade, sexo ou condição social, havendo uma incidência maior nos dois extremos da vida (crianças e idosos).

Tratamentos efetivos

Marlus Moro ressalta que, exceto em excepcionais oportunidades, as crises são de curta duração e autolimitadas, correspondendo a cerca de 25% das epilepsias. “Em geral, elas são facilmente controláveis, desde que adequadamente acompanhadas”, enfatiza.

 De acordo com o médico, a mais freqüente é a chamada crise parcial ou psicomotora, que se caracteriza por segundos de inconsciência, associada aos movimentos desordenados de membros.

Essas crises, diferentemente das generalizadas, respondem menos favoravelmente às medicações e, ocasionalmente, podem ser refratárias a qualquer tratamento anticonvulsivante.

O tratamento medicamentoso é sempre indicado, desde que tenha havido repetição de uma crise. “Cerca de 7% da população têm uma crise convulsiva durante a vida, e em 80% desses pacientes o tratamento é efetivo e satisfatório”, observa Marlus Moro. O restante pertence a um grupo chamado de “pacientes refratários”.

Por não obter o controle medicamentoso de suas crises, essa parcela da população tem comprometido o seu bem-estar e, freqüentemente, impedidos de exercer suas atividades profissionais e sociais, normalmente.

São pacientes que, ainda que bem medicados, de acordo com Moro, apresentam múltiplas crises no mês, na semana e até no mesmo, dia. São, igualmente, pessoas inseguras, angustiadas e deprimidas.

Investigados por meio de exames específicos, como o videoencefalograma prolongado, ressonância magnética e avaliação neuropsicológica adequada, 50% deles têm indicação cirúrgica como a forma mais eficaz de tratamento. Com esta indicação, o professor estima que se encontre perto de 15 mil pacientes paranaenses.

Principais seqüelas das crises

Como a maioria das crises dura de um a dois minutos e termina espontaneamente, pouco se pode fazer para abreviar a crise. Ao atender a um paciente durante uma crise, a pessoa deve manter-se calma e tomar alguns cuidados:

> Manter a vítima em local seguro
> Afasta-la de objetos que podem causar acidentes
> Deita-la de lado, sem imobilizá-la
> Manter a cabeça protegida e o mais confortável possível
> Facilitar a respiração
> Não oferecer nenhum tipo de bebida até ela se recuperar
> Não colocar nada na boca da vítima

Principais seqüelas das crises

> Mal-estar geral
> Às vezes, danos às funções mentais
> Prejuízos no aprendizado
> Dependendo das quedas, traumatismos cranianos
> Nas crises de longa duração, podem acontecer danos mais graves ao cérebro