Especialistas brasileiros discutem transtornos de humor

Especialistas do país inteiro se reunirão em Goiânia para discutir os mais diversos transtornos da mente. O encontro acontecerá durante o XXI Congresso Brasileiro de Psiquiatria e terá como um dos principais temas uma doença que afeta 2% da população brasileira: o transtorno bipolar.

Marcada pela instabilidade de humor (euforia e depressão), a doença é de difícil diagnóstico demorando, na maioria das vezes, cerca de uma década para ser detectada. Os mais de dois milhões de brasileiros que sofrem deste distúrbio têm 30 vezes mais chances de tentarem suicídio. De acordo com uma recente pesquisa, os sintomas bipolares podem afetar três vezes mais pessoas do que o previsto.

O simpósio “Barreiras do tratamento do Transtorno Bipolar: do diagnóstico ao tratamento”, coordenado do psiquiatra José Alberto Del Porto, da Escola Paulista de Medicina, reunirá cerca de 3 mil médicos. Os temas debatidos serão o uso de anticonvulsivantes como estabilizadores de humor, os subtipos do transtorno bipolar, discussão de casos clínicos e as vantagens do uso da lamotrigina em monoterapia combinada.

No primeiro semestre de 2004, a Anvisa deve aprovar o uso da lamotrigina no país para o tratamento da doença, vendido com o nome comercial de Lamictal pela GlaxoSmithKline. O medicamento foi aprovado há pouco mais de três meses pela Food and Drug Administration (FDA) com esta finalidade. Foi a primeira aprovação para o tratamento do transtorno depois do lítio, há mais de trinta anos. A substância atua nos dois pólos da doença (depressão e mania) diminuindo as crises e estabilizando o quadro clínico do paciente.

Um atual estudo em pacientes com transtorno bipolar mostrou que a crise de depressão é três vezes mais longa do que a de mania, o que indica que o período depressivo é mais problemático e resistente ao tratamento. A maioria das tentativas e dos atos suicidas ocorrem na fase depressiva ou entre as fases. O estudo é o mais completo e o único que aborda o dois extremos da doença, refletindo com veracidade o comportamento clínico dos pacientes. Outros agentes são utilizados para o tratamento da doença mas atuam somente em situações isoladas (ou depressão ou mania), não a tratando completamente.

O estudo mostrou que Lamictal prorroga significativamente o surgimento das crises nos pacientes depressivos, passando de 93 dias com o placebo para 200 com Lamictal, o que representa um aumento de 115% do período de estabilidade. No caso dos maníacos e hipomaníacos, a média de dias livres de crise variou em 66%, 141 dias com Lamictal e 85 com placebo. A análise combinada dos estudos constatou a superioridade de Lamictal em ambas as situações de crise, ampliando o período de estabilidade do paciente.

Um outro simpósio, desta vez coordenado pelo psiquiatra Paulo Mattos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordará as dificuldades no tratamento da ansiedade e uso de novas formulações em antidepressivos. Estudos de casos clínicos demonstrarão as vantagens do uso de novas drogas como a bupropiona (Wellbutrin).


Serviço: XXI Congresso Brasileiro de Psiquiatria
Data: 15 a 18 de outubro de 2003
Local: Centro de Convenções de Goiânia – Rua 4, nº 1400 – Goiânia, GO

Principais Simpósios:

Barreiras do Tratamento do Transtorno Bipolar: do diagnóstico ao tratamento Coordenador: José Alberto Del Porto (EPM) (17/10 – 8h às 10h) – Anticonvulsivantes como estabilizadores do humor: Por que, como e quando usar? – José Alberto Del Porto (EPM – SP) – Elementos do subdiagnóstico/Prognóstico do transtorno bipolar: subtipos; depressivos, refratariedade, sintomas residuais – Olavo de Campos Pinto Jr. – (IPUB – UFRJ) – Interesse Teórico versus Evidências de Eficácia: lamotrigina em monterapia combinada – Jair C. Soares. UCLA – EUA – Discussão de Casos Clínicos : Jair C. Soares e José Alberto Del Porto Barreiras ao Tratamento da Ansiedade – Depressão: Viável ao Ideal Coordenador: Paulo Mattos (UFRJ) (17/10 ? 14h30 às 16h30) – Clínica e evidência científica na abordagem da depressão ? Valentim Gentil Filho (USP) – Interesse teórico versus adesão ao tratamento: do gerenciamento de eventos adversos às novas indicações – Antônio Egídio Nardi (UFRJ) – Novas formulações em antidepressivos: vantagens práticas versus Limitações Paulo Mattos Discussão de Casos Clínicos

O que é transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é caracterizado pela alternância de humor.

Episódios extremos de mania e depressão oscilam com maior permanência da fase depressiva.

Quando os sintomas depressivos e maníacos se combinam, acontece uma sobreposição de fases.

Não existe cura para o transtorno bipolar. Um dos mais sérios riscos da doença é o suicídio, associado, na maioria dos casos, com a fase depressiva. Cerca de 15% dos pacientes com transtorno bipolar têm ideação suicida. Somado a isso, pesquisas estimam que mais de 40% dos indivíduos com o transtorno bipolar tenham problemas com álcool e drogas durante a doença.

Uma vez não tratada, a dependência química pode piorar o quadro do paciente, aumentando a freqüência das crises.

Lamictal (lamotrigina) age nos canais de sódio sensíveis à diferença de potencial para estabilizar as membranas neuronais e inibir a liberação de neurotransmissor, principalmente do glutamato, um aminoácido excitatório que representa um papel-chave no desencadeamento de ataques epilépticos. É uma droga antiepiléptica indicada para o tratamento da epilepsia (parcial ou tônico-clônico generalizado) e, agora, do transtorno bipolar nos Estados Unidos. Em alguns países, o medicamento também é indicado para o tratamento da epilepsia em crianças maiores de dois anos.

Lamictal é comercializado em mais de 90 países. Mais de cinco milhões de pacientes já usaram o medicamento do laboratório GlaxoSmithKline.

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