Esclerose múltipla é pouco conhecida pela população

A dona de casa Cristina M. Pereira descobriu que era portadora de esclerose múltipla há dois anos, quando começou a sentir dormência no quadril, que logo passou para as pernas.

Ela procurou, primeiro, um orotopedista, que nada diagnosticou. Com medo de um tumor na coluna, buscou ajuda com um neurologista.

O médico pediu uma ressonância magnética, suspeitando de um tumor na coluna vertebral.

O resultado apontou uma desmienilização, com suspeita de esclerose múltipla. “Até fechar o diagnóstico se passaram seis meses”, conta.

A partir daí, sua vida mudou totalmente, “comecei a ter surtos todo mês mesmo e, no último acompanhamento, foram encontradas novas lesões. Passei a fazer quimioterapia”, comenta. Cristina, que tem um filho de três anos, diz que sua vida desmoronou, mas está levando a sério o tratamento na esperança de que tudo acabe bem.

O neurologista Douglas Sato explica que, de modo geral, a esclerose múltipla é pouco conhecida pela população. Muitas pessoas a confundem com outras patologias popularmente agrupadas no termo “esclerose”, mais frequentes na senilidade, tais como a doença de Alzheimer.

Diferentemente dos quadros que envolvem demência, a doença atinge principalmente jovens e adultos na faixa etária de 20 a 40 anos, na proporção de duas mulheres para cada homem.

“Trata-se de uma doença imprevisível que afeta o sistema nervoso central, com ativação de elementos do sistema imunológico do paciente contra suas próprias estruturas neurológicas”, diz o especialista.

Exames minuciosos

De acordo com a Federação Internacional de Esclerose Múltipla, existem cerca de 2,5 milhões de pacientes no mundo. Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem), o Brasil possui mais de 30 mil portadores, sendo que desse total apenas cinco mil recebem tratamento adequado devido à demora e a dificuldade no diagnóstico.

Em seu estágio inicial, o neurologista ressalta que os pacientes podem apresentar sintomas, como visão borrada ou dupla, fadiga, fraqueza, formigamento, dormência nos braços ou pernas, incontinência fecal ou urinária e dificuldade para falar.

Além disso, há também relatos de apatia, desatenção, euforia, choro súbito, entre outros. “Por isso, é essencial que profissionais de várias especialidades médicas estejam preparados para suspeitar do diagnóstico e indicar o caso para um neurologista”, afirma.

Quando há suspeita de esclerose múltipla, o médico especialista realiza uma série de testes minuciosos para confirmar a avaliação clínica. Normalmente, os exames mais comuns são os que analisam as funções motora (controle dos movimentos), sensitiva (controle dos sentidos), tronco cerebral (análise dos nervos cranianos), cerebelar (controle da função motora instintiva, como o equilíbrio) e mental (funções como fala, concentração e vigilância).

São também recomendados outros exames mais específicos, como os de potencial evocado visual (processamento de informações visuais), análise do líquido cefalorraquiano (detecção de inflamação no sistema nervoso central) e ressonância magnética (detecção de lesões no cérebro e medula espinhal). “Com base nas evidências laboratoriais, o neurologista poderá fazer o diagnóstico definitivo”, relata Douglas Sato.

Tratamento continuado

Conforme o especialista, o tratamento precoce é positivo por promover condições para uma redução da atividade inflamatória da esclerose múltipla, clinicamente descrita como surto, fenômeno mais intenso nas fases iniciais da doença.

Com isso, é possível conquistar a estabilidade da doença e uma melhor qualidade de vida, adiando o desenvolvimento de possíveis incapacidades físicas. Estudos recentes sugerem que a intervenção precoce com imunomodulares, tal como betainterferona 1b, no momento da suspeita do diagnóstico, pode retardar o desenvolvimento de n,ovos surtos e riscos de incapacidade neurológica causada pela doença.

O neurologista adverte que os surtos precisam ser tratados com medicamentos adequados.

No entanto, a reversão dos sintomas pode ser total ou parcial, dependendo da reação de cada paciente ao tratamento.

Após o atendimento emergencial, é necessário que o tratamento continue sendo administrado, com o objetivo de proteger o paciente de futuros episódios neurológicos que tragam sequelas.

Por se tratar de uma doença crônica, é comum que o paciente fique depressivo ao receber o diagnóstico, mas é importante ressaltar que é possível levar uma vida normal, mesmo que com algumas limitações.

A melhor forma para manter a qualidade de vida é buscar o apoio familiar, realizar um tratamento multidisciplinar e se cercar de informações sobre a doença para compreender melhor o que está acontecendo tanto com o seu corpo, como com o seu estado emocional.

Os efeitos da esclerose múltipla

* Perda súbita da visão ou visão dupla
* Distúrbios da fala
* Instabilidade corporal
* Andar inseguro
* Perda de coordenação
* Tremores de uma mão
* Fadiga
* Perda de sensibilidade facial
* Incontinência urinária
* Formigamento ou fraqueza nos braços ou nas pernas