Enurese noturna exige tratamento e paciência

Ter de colocar o colchão molhado de urina das crianças para secar no sol, durante grande parte das manhãs, é um problema que aflige muitos pais. Cerca de 15,7% dos meninos e meninas com cinco anos de idade e 23% com seis e sete anos têm problemas por urinar na cama durante a noite, a chamada enurese noturna. A informação é da médica nefropediatra e diretora do Centro de Nefrologia Pediátrica do Paraná (Nefroped), Rejane de Paula Meneses, que hoje participa de um simpósio sobre o assunto no Hotel Blue Tree Tower, em Curitiba.

Segundo ela, dos 23% de crianças que “molham” a cama, 50% têm enurese noturna monossintomática, que é quando o problema só ocorre durante a noite. “As causas ainda não são muito bem definidas, mas há influência de fatores genéticos e de alterações do hormônio antidiurético durante a noite”, afirma. O tratamento pode ser realizado com hormônio, que diminui a quantidade de urina enquanto a criança dorme, ou por condicionamento com alarme, quando um equipamento sonoro colocado na roupa da criança toca assim que a primeira gotinha de uria é percebida.

A outra metade das crianças têm distúrbios de micção, que é quando há disfunção de bexiga e a criança tem escapes de urina também durante o dia. “Nesses casos, a bexiga não tem suas funções normais. Então, o tratamento é feito à base de medicamentos e técnicas de reeducação miccional (biofeedback)”, explica a médica. Geralmente, em centros de saúde, o paciente é atendido por equipes multidisciplinares.

Reflexos do problema

Ao longo do tempo, a criança enurética pode se sentir culpada e ter perda de auto-estima, mostrando-se retraída, isolada, com sentimento de culpa e desprezo por si mesma. Ela começa a ter um baixo rendimento escolar, dificuldade de relacionamento e sociabilidade. Já os pais acabam se sentindo frustrados e, muitas vezes, por falta de informação, utilizando métodos punitivos. “Na maioria das vezes, os pais não sabem como lidar com o problema: ou encaram com naturalidade demais ou reprimem a criança”, conta Rejane.

A indicação é que os pais, antes de tomarem qualquer atitude, procurem ajuda profissional, para que o filho possa passar por uma avaliação. A médica lembra que a enurese noturna é um assunto médico e tem tratamento. Não deve ser visto como tabu, tampouco como segredo de família.

Serviço

– Pais que têm filhos com enurese noturna, ou têm escapes de urina no decorrer do dia, podem procurar a Unidade de Enurese e Distúrbio de Micção, do Nefroped. Telefone para contato: (41) 342-5588.

Pai repreendia filha

O empresário Roque Gonzales, de Curitiba, sofreu muito devido à enurese noturna da filha, hoje com treze anos de idade. Ele conta que a garota usou fralda até os sete anos. E até os doze, urinava na cama. Freqüentemente, os escapes de urina também aconteciam durante o dia, fazendo com que a menina passasse por uma série de constrangimentos.

O problema só foi detectado quando a criança foi levada às pressas para o hospital, devido à uma infecção urinária, que apareceu juntamente com uma infecção aguda no rim. Então, ela passou a contar com acompanhamento médico e tratamentos de reeducação miccional e medicamentoso.

Hoje, a garota está curada e leva uma vida normal. Porém, segundo o pai, teve o lado emocional bastante abalado. “Ela não ia dormir na casa dos primos e amiguinhos por medo de fazer xixi na cama e vergonha de usar fralda”, relata, acrescentando que, às vezes, na escola, professores desinformados não a deixavam ir ao banheiro, fazendo com que a menina urinasse na calça. “Ela voltava para casa chorando e bastante nervosa.” Freqüentemente, tinha que conviver até com as brincadeiras dos próprios irmãos.

Roque também se sente culpado por não ter descoberto antes o problema da filha. Ele conta que, por ignorância, chegou a repreender a filha e pressioná-la a mudar seu comportamento. “Eu não sabia que fugia ao controle da menina a capacidade de segurar o xixi. Por isso, muitas vezes, agi de forma errada”, confessa. “Porém, percebi que falta informação sobre o assunto, até entre a classe médica: os planos de saúde, por exemplo, não reconhecem o problema”, lamenta. (CV)

Voltar ao topo