Doença das manias atinge duas em cada 100 pessoas

Mania de limpeza exagerada, de voltar para verificar o fechamento da porta ou do gás, de contar objetos ou falar silenciosamente podem ser sinais de Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma doença que muitas pessoas não sabem que têm.

Lavar as mãos toda hora; tomas vários banhos por dia; verificar dezenas de vezes se a porta está trancada ou a válvula do gás está fechada; questionar uma informação repetidamente para ver se está correta; executar minuciosamente uma série pré-programada de atos para evitar que aconteça algum mal; contar ou falar silenciosamente; não conseguir evitar pensamentos ruins ou que não façam o menor sentido; pisar em algumas partes da calçada e pular outras. Duas em cada 100 pessoas têm essas “manias”, ou melhor, sofrem de TOC ? Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma doença que em geral se inicia no fim da adolescência, por volta dos 20 anos de idade, mas que pode se manifestar em crianças também.

O TOC caracteriza-se pela presença de obsessões associadas ou não a compulsões. Obsessões são pensamentos, sentimentos, idéias, impulsos ou representações mentais vividos como intrusos e sem significado particular para o indivíduo. Embora a pessoa os reconheça como frutos de seu próprio psiquismo, não consegue extinguí-los de sua consciência, apesar do desejo de fazê-lo. Já as compulsões são comportamentos repetitivos e intencionais, cognitivos ou motores, realizados com uma determinação e premência que freqüentemente ultrapassa a livre determinação do indivíduo. Normalmente o TOC evolui com períodos de melhora e piora. Embora seja pouco freqüente a cura completa da doença, um tratamento adequado, que envolve a combinação de medicamentos e psicoterapia, consegue controlar sintomas.
Muitos portadores de TOC apresentam também outros transtornos como fobia social, depressão, transtorno de pânico e alcoolismo. Alguns transtornos mentais como a tricotilomania (arrancar pelos ou cabelos), o distúrbio dimórfico do corpo (idéia fixa de que há um pequeno defeito no corpo, em geral na face) e a síndrome de Tourette (síndrome dos “tics nervosos”) parecem estar relacionados ao TOC. Pesquisas recentes mostram que o TOC é uma doença do cérebro na qual algumas áreas cerebrais apresentam um funcionamento excessivo. Hoje se sabe também que o neurotransmissor serotonina está envolvido na formação dos sintomas obsessivo-compulsivos. Para alguns especialistas no assunto, quem tem uma predisposição para a doença reage excessivamente ao estresse.

Layse começou a manifestar o TOC aos 12 anos, quando seus pais se separaram. Ela já havia apresentado sinais leves quando criança, mas nada que chamasse a atenção para se pensar em tratamento. Aos poucos os rituais começaram a aparecer e foram se intensificando: ela passava álcool na casa toda, tomava vários banhos por dia (chegava a usar até 40 toalhas), trocava roupas de cama todo dia. Os médicos demoraram a diagnosticar a doença. Na prática, a adolescente estava se deparando com um dos maiores problemas relacionados ao TOC: a maioria dos médicos e das pessoas que têm a doença não sabe diagnosticá-la. Hoje Layse participa da Riostoc, uma associação sem fins lucrativos que vem reunindo, no Rio, uma vez por mês, familiares, amigos e portadores de TOC. Ela completou 18 anos e está se preparando para o vestibular.

A Riostoc será lançada oficialmente no dia 8 de agosto, durante a 12ª Jornada de Psiquiatria da Aperj ? Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro. Médicos de todo o país terão a oportunidade de trocar idéias e conhecimentos sobre a doença e, o mais importante, conhecer de perto a experiência de dezenas de associados da Riostoc.

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