Diabetes exige controle permanente

Imagine que você está dirigindo e seu carro começa a falhar. No painel, uma luz indica que é preciso reabastecê-lo. Após encher o tanque, o automóvel volta a funcionar. Pense nessa situação acontecendo com o seu corpo.

A máquina humana também precisa de combustível para entrar em ação. Na sua falta, o organismo sofre as conseqüências. Nosso combustível é a glicose retirada dos alimentos. É ela que produz a energia necessária para sobrevivermos.

Da mesma forma que a gasolina precisa de uma mangueira para ser colocada no tanque do carro, a glicose precisa da insulina, hormônio fabricado no pâncreas para chegar até as células.

Quando o organismo não produz, produz quantidade insuficiente ou não processa a insulina de forma adequada, há um aumento das taxas de glicose no organismo, que, em níveis elevados, pode ser tóxica e levar a uma série de complicações.

Distúrbio metabólico

“Ter diabetes faz parte da minha vida e eu tento conviver com ela da melhor forma possível.” A frase, da jornalista Luciana Oncken que mantém um blog na internet como o título “Viver com diabetes”, deve resumir o pensamento de todas as pessoas que tiveram o diagnóstico da doença confirmado.

O diabetes é muito mais do que um problema que impede as pessoas de comerem doces, gorduras, beberem refrigerantes ou sucos, muito menos uma doença que pode ser tratada facilmente com dietas.

“É um distúrbio metabólico que impõe mudanças de estilo de vida, que são importantes para a saúde e valem para todas as pessoas”, ressalta o médico Freddy Golberg, chefe do Departamento de Endocrinologia, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

No sábado, Dia Mundial do Diabetes, o desafio foi chamar a atenção para essa doença crônica, progressiva na qual o corpo reduz ou não produz ou utiliza apropriadamente a insulina – o hormônio necessário para converter a glicose (açúcar) em energia.

A Federação Internacional do Diabetes aponta 250 milhões de portadores da doença no mundo, estimando que, em 2025, serão mais de 380 milhões. No Brasil, A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) calcula que entre 8 e 10 milhões tenham diabetes.

Importantes regras

Luciana Oncken lembra que o sábado foi para o mundo saber da doença. “Os outros dias são para nós, que já sabemos, mas que precisamos de mais: acesso à boa informação, aos medicamentos e suprimentos gratuitos, assistência médica, acompanhamento, apoio psicológico e nutricional”, comenta.

Goldberg admite que os portadores de diabetes precisam de muito controle e resignação. “A doença não dá trégua, se não seguir certas regras, as conseqüências ao portador podem chegar mais cedo”, alerta.

Sem a proteção e ação apropriada de insulina, a glicose permanece no sangue, levando à hiperglicemia crônica (aumento do açúcar no sangue). Isso pode resultar em complicações em curto e longo prazo, muitas das quais, se não prevenidas e deixadas sem tratamento, podem ser fatais. Todas têm o potencial de reduzir a qualidade de vida das pessoas com diabetes e a de suas famílias.

Leão Zagury: “O diabetes é a epidemia das metades”.

O professor de endocrinologista da PUC do Rio de Janeiro Leão Zagury descreve o panorama do tratamento do diabetes no Brasil com a epidemia “das metades”. Assim, metade da população de diabéticos não sabe que tem a doença.

A outra metade faz tratamento. Metade dos que fazem tratamento não consegue sucesso no seu controle. ,”No quesito descontrole do diabetes só perdemos para a Tunísia”, revela.

Avaliação glicêmica

No portador de diabetes, um bom controle dos níveis de glicose sanguínea é representado por uma glicemia de jejum abaixo de 100 mg/dL. Os testes de glicemia podem ser realizados em laboratórios clínicos ou em casa, pelo próprio paciente, com o auxílio de um monitor de glicemias e de tiras reagentes, utilizando-se uma minúscula quantidade de sangue obtido de uma punção do dedo, refletindo o nível de glicose naquele instante.

Outro exame para avaliação do controle glicêmico é o teste da hemoglobina glicada ou glicosada. Ele reflete a glicemia média dos últimos 2 a 4 meses. Como ambos proporcionam informações diferentes sobre o grau de controle glicêmico, são importantes para uma avaliação adequada.

“Controlar o diabetes de forma adequada é, em primeiro lugar, um desafio para os pacientes”, confirma Zagury. De acordo com o especialista, significa adotar mudanças de hábitos já bem conhecidos, mas complicados de se colocar em prática: reeducação alimentar, exercícios, controles e mais controles.

Para os médicos também não é tarefa fácil, pois na maioria das vezes, as medidas preventivas se mostram insuficientes e exigem tratamento medicamentoso individualizado.

“Na medida em que o organismo de cada pessoa funciona de maneira diferente, o mesmo grupo de alimento pode ter maior ou menor impacto em seu metabolismo e, por conseqüência, nos níveis de glicose no sangue”, completa o especialista.

A DOENÇA

Fatores genéticos (herança familiar) e ambientais (obesidade, trauma emocional, gravidez, infecções bacterianas e viróticas, estresse, etc.) são alguns dos causadores do desencadeamento do quadro de diabetes. Ou seja, quando alguém recebe o diagnóstico de diabetes é porque tem propensão genética, aliada a um ou mais dos fatores desencadeantes.

É bom ficar atento a sintomas, como sede excessiva, perda de peso, fome exagerada, cansaço inexplicável, muita vontade de urinar, má cicatrização, etc. Como várias outras doenças crônicas, o diabetes pode não apresentar sintomas durante anos, em especial no tipo 2, que atinge particularmente os adultos.

Muitas vezes os sintomas, quando surgem, são um pouco vagos, como formigamento nos pés e mãos. Por isto, há necessidade de controle periódico por meio de exames de laboratório.