Dependência Química pode disfarçar transtornos mentais

Existem duas relações entre dependência química e transtornos mentais: uma de preexistência e outra de conseqüência. Na dependência química, pode ocorrer a comorbidade que significa a ocorrência conjunta de transtornos mentais em paralelo com a dependência química. O transtorno mental pode ocorrer antes de a pessoa se tornar um dependente químico (e de certa forma ser mascarada pelo uso de droga) ou depois, como conseqüência do uso de substâncias químicas.

Segundo o diretor clínico do Recanto Maria Tereza, Luiz Alberto Chaves de Oliveira (Dr. Laco), a mais comum dentre as doenças psíquicas é a depressão, que atinge cerca de 67% dos dependentes químicos. Para se ter uma idéia, depois de 20 dias de tratamento sem remédio para depressão, o número de casos de dependentes químicos depressivos cai para 16%. “O que mostra que era uma depressão relacionada ao uso da droga”, diz o Dr. Laco.

De acordo com o Dr. João Lourenço, médico psiquiatra do Recanto Maria Tereza, a comorbidade psiquiátrica é muito difícil de ser tratada, primeiro porque é mais difícil de ser diagnosticada e poucas clínicas tratam deste tipo de dependente químico. “O dependente químico intitulado popularmente por “fio virado” é pouco entendido e por isso pouco aceito pelas instituições que trabalham com os 12 passos”, afirma o psiquiatra.

Os transtornos mentais mais comuns na comorbidade prévia, além da depressão, são: transtornos de ansiedade; transtornos de humor; transtornos esquizofrênicos e traços anormais de caráter. O médico afirma que, muitas vezes, a droga é vista por estas pessoas como um “anestésico” para os sintomas causados por estas doenças. “E quando usam droga os sintomas são mascarados e tendem à piorar”, afirma o Dr. João Lourenço.

Doenças sequelare

O uso contínuo de drogas pode também lesar o cérebro e trazer, como conseqüência, doenças mentais seqüelares. “Qualquer droga vai lesar o cérebro e as seqüelas dependem do tipo de droga utilizada, do seu tempo de uso e da suscetibilidade individual”, diz o Dr. João Lourenço.
“É comum ocorrerem algumas doenças por causa da dependência química”, diz o Dr. João Lourenço. Exemplos clássicos de doenças seqüelares são as alucinoses, quando as pessoas têm alucinação (ouvir vozes que não existem, por exemplo), muito comum na dependência química do álcool; os chamados delírios secundários também podem acometer o dependente químico. Nos quadros delirantes, o indivíduo pode fazer interpretações falsas da realidade como, por exemplo, achar que pessoas o estão seguindo (delírios persecutórios), Ou que seu pensamento pode afetar pessoas (delírios de influência), ou que seja uma personalidade importante, que realmente não é (delírios de grandeza).

O Dr. João Lourenço cita ainda como doenças mentais seqüelares os transtornos da dispersão de atenção (TDA), onde a dificuldade de concentrar a atenção pode causar distúrbios de aprendizagem, da percepção exata de sua própria pessoa quanto ao tempo e espaço (desrealização e despersonalização) e alguns podem ficar ansiosos e inquietos por causa disso. Os distúrbios de memória também podem estar presentes onde o paciente não consegue ter memória recente. “Não consegue assimilar nenhuma informação nova, só evocar aquilo que já aprendeu antes de ter a memória lesada”. Distúrbios do sono também podem se apresentar, desde uma insônia até forte sonolência. “Os dois casos podem prejudicar o tratamento”, diz o Dr. João Lourenço.

O médico psiquiatra lembra que algumas lesões cerebrais causadas pelo uso de drogas são irreversíveis, por isto, a proposta do Recanto Maria Tereza é trabalhar para que a pessoa aprenda a conviver com o problema sem que isso seja um ponto de bloqueio para seu programa de recuperação.

Psiquiatria

A inclusão de dependentes químicos com comorbidade no Recanto Maria Tereza faz parte das primeiras etapas do projeto para atender casos psiquiátricos. No médio prazo, a clínica estará com uma unidade psiquiátrica projetada e planejada conforme as regras estabelecidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no que tange os quesitos médicos psiquiátricos hospitalares bem como da psicologia clínica.
“Porém, o maior diferencial será a utilização do método Minesotta no processo de recuperação dos pacientes com transtornos mentais, inspirando-nos no NA e PA (Neuróticos Anônimos e Psicóticos Anônimos)”, diz o médico.

Segundo o Dr. Lourenço, atualmente a clínica vem atuando com casos de dependência química com comorbidade psiquiátrica desde que não afetem o paciente a ponto de desestruturar sua personalidade, o que o impediria de ser mantido em regime aberto. “Nossa proposta será sempre de um tratamento humanizado. Acreditamos que as relações humanas potencializam os efeitos da tecnologia”, afirma o Dr. João Lourenço.

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